Título: Pistoleiros matam juiz da corte que vai julgar Saddam
Autor: Reuters, AP, EFE e AFP
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Internacional, p. A17

Marwani e um de seus filhos, líder de um partido curdo, são emboscados no norte de Bagdá

BAGDÁ - Um juiz do Tribunal Especial que julgaria Saddam Hussein e um de seus filhos foram mortos na terça-feira à noite em Bagdá. Um grupo de homens armados matou a tiros o juiz Barviz Mahmud Marwani e seu filho Arian - que era advogado e dirigente do partido União Patriótica do Curdistão - quando os dois passavam de carro pelo bairro Al-Kadhimiya, no norte da capital. Os dois morreram pouco depois de serem levados para o hospital mais próximo. Foi o primeiro assassinato de um juiz do tribunal criado em 2003 para julgar ex-membros do regime de Saddam (ler ao lado). Funcionários e autoridades iraquianas disseram ontem não ter certeza de que o juiz foi assassinado por causa de sua atuação no tribunal. Uma ação de vingança pessoal contra o juiz ou o filho dele ou o fato de os dois atuarem como ativistas curdos também foram mencionados como possíveis razões do crime.

Por outro lado, outro filho de Mahmud, Maryon, disse estar certo de que o ataque foi motivado pelo trabalho do juiz, que buscava levar Saddam e seus partidários ao banco dos réus. "Eu vi o sangue escorrendo do pescoço de meu pai. Ele foi baleado duas vezes e meu irmão levou 11 tiros", disse Maryon, perto do local do crime. "Sabíamos que isso poderia acontecer por causa do trabalho do meu pai. Ele e meu irmão morreram depois de viverem com dignidade. Isso me dá algum conforto."

Em outros incidentes na capital, 14 soldados iraquianos foram mortos ontem em dois ataques com carros-bomba. Na segunda-feira, numa fila de recrutamento da polícia num mercado de Hilla, ao sul de Bagdá, 125 pessoas morreram na explosão de outro carro-bomba. O primeiro atentado de ontem aconteceu na região de Al-Karkh, no oeste de Bagdá, quando um motorista suicida lançou um carro-bomba contra vários veículos da Guarda Nacional que esperavam na base militar de Al-Muzana. Seis soldados morreram. O quartel de Al-Muzana, antiga base área, tornou-se um centro de recrutamento de iraquianos para o novo Exército depois da queda do regime de Saddam. No ataque outras 38 pessoas ficaram feridas, entre elas 13 civis, segundo fontes médicas e da polícia.

Um atentado semelhante matou oito soldados do Exército iraquiano no bairro de Al-Dura, no sul de Bagdá. De acordo com testemunhas, a explosão ocorreu perto de uma ponte utilizada freqüentemente pelas forças de segurança iraquianas e pelas tropas americanas.