Título: Brasileiros ilegais detidos nos EUA são 75
Autor: Jotabê Medeiros
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2005, Metrópole, p. C9

Megablitz ainda causa apreensão entre quem escapou, na região de Hartford HARTFORD, EUA - Wendell havia chegado aos Estados Unidos no dia 10. Vinha de São Geraldo do Miritinga (MG) e pagou cerca de US$ 10 mil para cruzar a fronteira com o México. O frio era intenso e a neve ainda derretia. Por quatro dias, trabalhou de graça pela vaga. Ia começar a receber na quarta, mas na noite de terça foi surpreendido pelo Serviço de Imigração e agora está na prisão em Massachusetts, esperando para ser deportado, com outros 75 brasileiros. A informação de que o número de presos é maior do que se supunha foi obtida por Eduardo Galvão, enviado do Consulado do Brasil a Boston. A partir daí, ninguém mais falou com Wendell - e a mulher e a filha pequena, que deixou no Brasil, vão demorar para receber notícias.

A saga americana de Wendell (os amigos em Hartford pedem para não revelar o sobrenome dele) foi abruptamente interrompida, mas o maior caso de prisão de imigrantes ilegais brasileiros nos Estados Unidos criou um clima de apreensão e medo entre os que escaparam ilesos da megablitz.

Nas cidades de Hartford, Danbury e Springfield, onde se concentra a maior parte dos imigrantes do Brasil, quem está ilegal reluta em ir trabalhar. O restante da comunidade tenta organizar-se para ajudar os amigos e parentes apanhados pela Imigração.

Hartford, segundo um censo informal do Centro Cultural Brasileiro da cidade, tem cerca de 8 mil "brazucas" trabalhando nas 12 cidades da região. O pastor Silvio Almeida conhece muitos desses brasileiros, fiéis da Igreja Emanuel. Ele vem recolhendo desde quinta-feira os passaportes dos detidos para buscar auxílio jurídico. Ontem, estava com 30 documentos em mãos. "Alguns dos detidos deverão ser liberados. Para os outros, quanto mais rápida for a deportação menos sofrimento vão enfrentar."

PAI

O catarinense Ronaldo Ferrari, de 27 anos, conversou pela última vez com o pai, Valmir, na terça-feira à tarde. A família é de Sombrio, perto de Criciúma. "Fizemos planos de comprar uma lanchonete e ele voltaria em dezembro", comenta o filho. Dois anos e oito meses nos Estados Unidos, trabalhando na limpeza, não serviram como período mais duro da vida de Valmir, que trabalhou em mina de carvão por dez anos e teve uma padaria.

"Levaram ele embora e o carro ficou no estacionamento. Ontem tive de rebocar", diz Ronaldo, há seis anos vivendo em Hartford. No Brasil, a mãe, Marli, aguarda sozinha por notícias do marido, que sofre de asma.

Todos os presos pela Imigração trabalhavam para o também brasileiro José Neto, de 38 anos, que mantinha a empresa Spectro em Allston, Massachusetts. Ele foi preso esta semana, após tentar subornar um policial, e apontou funcionários que trabalhavam ilegalmente nos Estados Unidos.