Título: Tabaré e Kirchner vão investigar desaparecimentos
Autor: DPA e EFE
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Internacional, p. A19

Uruguai e Argentina vão se ajudar na busca a desaparecidos na Operação Condor

MONTEVIDÉU - O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, que assumiu o cargo terça-feira, e seu colega argentino, Néstor Kirchner, concordaram ontem em Montevidéu com uma colaboração para esclarecer os casos de desaparecidos na Operação Condor, durante as ditaduras militares nas décadas de 70 e 80 na América Latina. A Argentina enfrentou a ditadura militar entre 1976 e 1983, enquanto no Uruguai as Forças Armadas tomaram o poder por meio de um golpe de Estado em 1973 e governaram até 1985.

Os chanceleres da Argentina e Uruguai, Rafael Bielsa e Reinaldo Gargano, também assinaram acordos de cooperação em matéria de imigração e direitos humanos.

Em um dos discursos que pronunciou ao assumir o cargo, Tabaré manifestou interesse em esclarecer especialmente o caso da argentina María Claudia García, nora do poeta Juan Gelman, seqüestrada em Buenos Aires em 1976 e levada clandestinamente para Montevidéu, onde desapareceu no final daquele ano.

Entre os casos polêmicos está também o assassinato dos deputados uruguaios Zelmar Kichelini e Héctor Gutiérrez Ruiz, em maio de 1976, em Buenos Aires.

"Creio que certamente é bom que alcancemos entre os países latino-americanos acordos energéticos, intercâmbio de alimentos, de informática, de tecnologia. Mas há questões menos tangíveis, menos concretas, mas que têm tanta ou mais importância que os outros temas e tratam da dignidade das pessoas", disse Tabaré ontem.

"Um desses temas é sem dúvida o de direitos humanos. Nesse sentido nosso governo se compromete com o país, com nossos irmãos argentinos, com a região e com o mundo a trabalhar incansavelmente por essa questão, que vai muito além dos pontos que teremos de solucionar, entre os uruguaios, que é o tema dos cidadãos detidos e desaparecidos", acrescentou o novo presidente do Uruguai.

Ainda ontem, o governo da Argentina pediu ao Brasil a extradição do coronel da reserva uruguaio Manuel Cordero, acusado pelo juiz argentino Rodolfo Canicoba Corral de atividades relacionadas com a Operação Condor, anunciou ontem o chanceler Bielsa. O coronel está no Brasil desde agosto e pediu asilo político por meio de seu advogado.

Cordero é um dos quatro militares uruguaios requeridos pelo juiz por sua responsabilidade em seqüestros e assassinatos cometidos durante a Operação Condor, uma operação de repressão a esquerdistas coordenada entre as ditaduras da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.