Título: Dívida da Varig dificulta gestão
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Economia, p. B3

Mesmo operando perto do azul, empresa fica muito vulnerável, diz consultor especialista em aviação

Ainda que a Varig esteja operando perto do azul, tendo revertido uma sucessão de prejuízos que alcançaram a casa de R$ 2,8 bilhões em 2002, dificilmente ela conseguirá se livrar da dívida de R$ 9,4 bilhões nas próximas décadas. "Esse nível de endividamento é inviável e deixa a empresa muito vulnerável", afirma Marcelo Ribeiro, especialista em aviação da consultoria Pentágono. Hoje, avalia, a empresa se beneficia do crescimento da economia e também da desvalorização do dólar em relação ao real. Uma pequena parte do aumento de 39% da dívida, revelado no documento confidencial ao qual o Estado teve acesso, se explica pela variação da taxa Selic. É o caso da dívida com a Previdência e com a Receita Federal. O maior crescimento, porém, ocorreu no item "outros (passivos) com a União", que saltou de R$ 103 milhões para R$ 1 bilhão. Como a BR Distribuidora e o Banco do Brasil reduziram suas exposições à Varig nos últimos dois anos, o item deve contabilizar a inclusão de passivos em disputa judicial que a empresa se viu obrigada a reconhecer para ser incluída no Paes, programa de refinanciamento de dívidas com a União.

Além de um provisionamento extra de R$ 500 milhões para cobrir o déficit atuarial do fundo de previdência Aerus (crescimento de 73,7%), o documento mostra um aumento de quase R$ 600 milhões (77%) nas dívidas com leasing de aviões. Esse aumento se justifica pela renegociação de contratos. "A Varig não classifica leasing operacional ou financeiro como passivo, mas como nota explicativa. No entanto, quando há uma renegociação de contrato, o valor sai da nota explicativa e vai para o balanço", diz Ribeiro.

Nos últimos dois anos, a Varig renegociou a maior parte de suas dívidas e vem honrando os pagamentos com todos os credores. Mas esses pagamentos comprometem o fluxo de caixa de tal forma que a empresa tem tido dificuldades para pagar salários (parte do 13.º não foi paga ainda, enquanto os salários são pagos em parcelas), adquirir peças para manutenção (existem 8 aeronaves e quase 30 turbinas paradas) e pagar pelo combustível.

Na semana passada, o presidente da empresa, Luiz Martins, fez um apelo ao vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, para que ajude nas negociações com o Banco do Brasil e a BR Distribuidora. Martins quer da BR o mesmo tratamento dado à Gol e à TAM, que pagam pelo combustível a cada 30 dias. A Varig conta com um crédito de apenas dez dias, e tem de pagar em dinheiro pelo querosene de aviação.

"Do ponto de vista operacional, porém, a Varig está num ponto de virada. No balanço de 2004 ela deve exibir um prejuízo bem menor que o de 2003 (de R$ 1,8 bilhão)", acredita Ribeiro. No terceiro trimestre de 2004, a empresa apresentou o primeiro lucro operacional em anos, de R$ 262 milhões. No acumulado de janeiro a outubro, porém, o prejuízo foi de R$ 305 milhões.