Título: Brasil enfrenta o futuro com base para crescer
Autor: Alberto Tamer
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Economia, p. B3

PIB crescendo 5,2% e exportações de US$ 100 bilhões são números para serem comemorados e, se possível, superados. É um cenário bem diferente daqueles dois últimos sombrios. Agora, chegou a vez do futuro, um futuro condicionado pelo desempenho das exportações - causa básica da retomada do crescimento - e dos investimentos diretos, principalmente externos. O Brasil soube aproveitar a retomada da economia mundial, com a desanimadora exceção da União Européia, e a credibilidade obtida no mercado financeiro proporcionada por uma política monetária e fiscal responsável na atual circunstância. Não faltou mercado para lançar títulos brasileiros no exterior, trazendo recursos que substituíram a queda dos investimentos externos. Há compradores. Esperam-se agora os investidores.

A entrada efetiva de investimentos externos em 2004 limitou-se a US$ 11 bilhões. É pouco mas, a manter-se o atual clima econômico nacional, provavelmente eles tenderão a vir, por dois motivos: o impulso dado às exportações mostra aos investidores externos que o Brasil está abrindo mercado lá fora e quer transformar-se numa verdadeira plataforma de exportação. E não há qualquer sinal dentro do governo que a atual política econômica posta em prática até agora irá mudar, pelo menos neste ano. Existe um emaranhado de riscos nos bastidores de Brasília, mas tudo indica que teremos em 2005 uma política de crescimento sustentável. Quanto a 2006, ano da eleição presidencial, nada se pode prever.

O QUE FALTA

Neste cenário justificadamente festivo, falta o aprofundamento de medidas já pregadas pelo ministro Furlan, como a efetiva desvalorização do real para manter o impulso das vendas externas, a redução dos juros do BNDES para empréstimos de longo prazo e, sem dúvida, o mais importante de tudo - a desoneração tributária nas vendas externas. E, quando falo em "desoneração tributária", refiro-me não apenas à redução dos impostos na ponta das exportações, mas de todos os impostos, taxas imagináveis e outros encargos na cadeia da produção. Só com isso será possível tornar competitivos os produtos brasileiros num mercado onde predominam os subsídios de toda ordem oferecidos pelos nossos competidores. Eles exportam subsídios e nós, impostos e juros altos.

SINAIS DE ALERTA

Pode-se argumentar que, mesmo com esses empecilhos, com esses entraves, as exportações brasileiras chegaram a US$ 100 bilhões! Em alentadora análise divulgada ontem no boletim econômico da Tendências, "em termos dessazonalizados, o resultado mostra forte desaceleração do crescimento (do PIB) anualizado dos últimos trimestres. Esse crescimento passou de 7,3%, no final de 2003 e início de 2004, para 1,7% no último trimestre de 2004".

Os autores apresentam um gráfico altamente ilustrativo do comportamento do PIB, baseado em dados oficiais do IBGE. São números oficiais, muito bem analisados por Juan Jensen e Guilherme Maia, que mostram que, após uma fase de ouro (dois trimestres crescendo 7,3%), chegamos às portas de um futuro positivo, sim, mas cauteloso. Confirma a necessidade urgente de estímulos especiais para que o milagre de dois anos das exportações seja repetido em 2005, num mundo mais competitivo. Elas tiraram o País da recessão, geraram divisas, empregos, demanda e, conseqüentemente, o crescimento de 5,2%.

NÃO CONTEM COM A CHINA

O Bureau Nacional de Estatística, da China, confirmou ontem que o PIB do país cresceu mesmo 9,5% em 2004. Um outro instituto, Centro Estatal de Informação, prevê também que o banco central deverá aumentar as reservas, hoje de US$ 610 bilhões, esterilizando os recursos decorrentes dos investimentos externos sem aumentar volume de moeda circulante e pressões inflacionárias. Quanto ao yuan, o Centro estima que poderia haver uma desvalorização de 3% a 5%, mas só no fim do ano. Antes, o banco central poderá aumentar a taxa de juros. Ou seja, os chineses estão simplesmente anunciando que não haverá nenhuma mudança em seus planos econômicos. Farão tudo para aumentar as exportações e manter as importações sob severa vigilância. O recado da China pode ser resumido em poucas palavras: não contem comigo para resolver os seus problemas. Quanto ao Brasil, eles poderão mais atrapalhar do que ajudar...

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