Título: Preocupação com desemprego cresce e vontade de consumir cai
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Economia, p. B4

Queda da confiança do consumidor ainda é leve e pode estar ligada à alta dos juros

RIO - Depois de crescer continuamente desde abril de 2004, a confiança do consumidor recuou pela primeira vez em fevereiro, comparado ao mês anterior, segundo sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O resultado representa uma acomodação na trajetória das expectativas, diz a instituição, mas ainda é "muito bom". A principal preocupação ficou por conta do mercado de trabalho: houve aumento da parcela de pessoas preocupadas com o emprego. De forma geral, a avaliação mostra que houve deterioração das avaliações sobre a economia e a situação financeira das famílias no mês passado, que retornaram aos níveis, ainda favoráveis, de dezembro. Para o coordenador da sondagem, Aloísio Campelo, as altas de juros podem estar influenciando os consumidores. Há, também, o aspecto sazonal, já que em janeiro, tradicionalmente, as expectativas são mais fortes.

"Não houve reversão das expectativas, ocorreu uma acomodação, após meses de crescimento", diz Campelo. Para o economista da FGV Fernando Holanda, o consumidor mostra "certa cautela" e que está sintonizado com a política monetária mais restritiva desde o fim de 2004. Em janeiro, 24,7% dos entrevistados diziam que a situação da economia estava melhor, fatia que caiu para 18% do total. Para 18,7%, houve piora (a taxa era de 15,3% em janeiro). As expectativas para os próximos seis meses ficaram mais cautelosas.

O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Estêvão Kopschitz analisa que um dos objetivos do Banco Central (BC) ao elevar os juros é justamente esfriar o consumo. "O anúncio de que vai manter por tempo longo as taxas elevadas certamente desestimula um pouco o consumo", afirma. Kopschitz também explica que indicadores econômicos e o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) mostram o que já era esperado: o ritmo de crescimento não continua no mesmo nível do início da retomada.

EMPREGO

Enquanto as expectativas quanto à situação do País e das finanças familiares apresentaram leve recuo, a maior queda captada na sondagem foi relativa ao emprego. De janeiro para fevereiro, aumentou de 45,4% para 47,3% a parcela dos que avaliam que será mais difícil conseguir emprego nos próximos seis meses. Ainda assim, essa fatia é inferior à de dezembro (48,1%). Já a proporção que aposta em mais facilidade de obter uma vaga caiu de 14% para 10,3% dos entrevistados.

Houve também mais um recuo na parcela de consumidores projetando gastar mais com bens duráveis (mais caros, como automóvel, eletrodomésticos). Em abril, 17,9% informavam que iriam aumentar os gastos com essas compras, fatia que recuou gradativamente até 11,9% em fevereiro. O grupo que mais cresceu foi o de pessoas informando que manteriam iguais os gastos, 29,9% para 36,8% no mesmo período.

Para a FGV, as intenções de compra permanecem estáveis, até porque o consumo desses bens aumentou no ano passado e já ocupou um espaço do orçamento familiar. Na comparação com o mês anterior, a parcela de pessoas projetando gastar mais caiu um pouco (de 13,1% para 11,9%), assim como dos que indicavam gastos menores com estes bens (de 54,2% para 51,3%).

Na comparação com o mês anterior, a parcela que projeta manter os gastos registrou a maior variação: era de 32,6% em janeiro e passo para 36,8% em fevereiro.