Título: Renda no campo deve recuar 16% este ano
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Economia, p. B11

Os R$ 59 bilhões projetados para a safra atual é a menor cifra desde 2002

A safra recorde de grãos deste ano, estimada em mais de 130 milhões de toneladas por consultorias privadas, não deverá garantir uma receita gorda para o agricultor. Depois de oito safras de alta ininterrupta de receita e de capitalização no campo, a renda do agricultor deverá cair este ano 16% em reais e 12% em dólar ante 2004. Os R$ 59,7 bilhões projetados como receita desta safra, que já começou a ser colhida no Centro-Sul, é a menor cifra registrada pelo setor desde 2002. As projeções indicam que, neste ano, haverá recuo na receita com a comercialização de todos os grãos. Pior que isso é a queda na rentabilidade, isto é, o que sobra no bolso do agricultor depois de descontados os custos de produção. Foi exatamente esse cenário que mobilizou os agricultores, especialmente do Cento-Oeste, a reivindicar do governo melhores condições para a venda da safra.

Levantamento da consultoria MB Associados nas regiões produtoras mais importantes para cada lavoura mostra que, de oito áreas pesquisadas, os agricultores estão no vermelho em seis. A rentabilidade dos produtores de soja de Rio Verde, sudoeste de Goiás, Estado que responde por 13% da produção nacional, está negativa em 28% do preço, levando-se em conta o custo operacional de produção, que exclui a remuneração do capital. No caso do algodão produzido em Londrina (PR), esse indicador está negativo em 23%. Na soja de Primavera do Leste, Mato Grosso, a rentabilidade está negativa em 12%.

Segundo Glauco Carvalho, economista da MB responsável pelo estudo, o problema desta safra não é a queda na receita, mas o fato de a rentabilidade estar negativa. Ocorre que, neste ano, houve uma conjugação desfavorável de fatores: os custos aumentaram e os preços das commodities despencaram. "Com isso, receita e rentabilidade recuaram, o que é sinal de descapitalização."

Influenciados pela maior oferta mundial de grãos, os preços das commodities agrícolas recuaram este ano, depois de atingir níveis recordes em 2004. No início do ano, o preço em reais do algodão em pluma está 39% abaixo do registrado no mesmo período de 2004. O quadro é semelhante para arroz, soja e milho, com queda de 31%, 30% e 13%, respectivamente, na comparação anual.

Os custos dispararam, impulsionados pela subida do petróleo, que puxou a cotação dos fertilizantes. Em dezembro de 2003, eram necessárias 13,7 sacas de soja para comprar uma tonelada de adubo. Em dezembro último, eram necessárias 23,4.