Título: Coalizão xiita inicia negociações para formar governo iraquiano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2005, Internacional, p. A14

Aliança, que obteve 48% dos votos, busca apoio para preencher os principais cargos do governo de transição BAGDÁ - A coalizão xiita Aliança Unida Iraquiana, vencedora das eleições para a Assembléia Nacional, começou ontem a manter negociações com os outros grupos políticos para a escolha dos principais cargos no governo de transição. A aliança conseguiu 48% dos votos, bem menos do que os quase 60% que esperava obter para ter um tranqüilo poder de barganha no processo que conduzirá à redação da Constituição e formação do novo governo provisório.

Quem saiu fortalecido foi o segundo colocado, uma coalizão de partidos curdos, cujos 26% de votos superaram suas expectativas. Em terceiro ficou o grupo do primeiro-ministro interino, Iyad Allawi, com apenas 13%.

O processo de transição prevê que os 275 membros da Assembléia, eleitos no dia 30 de janeiro, escolham por maioria de dois terços dos votos um presidente e dois vice-presidentes. Estes depois nomearão o primeiro-ministro, que será o homem forte do governo e também precisará ter seu nome aprovado pela Assembléia.

Cientes de sua importância, líderes curdos já deixaram claro que querem a presidência para Jalal Talabani, dirigente da União Patriótica do Curdistão.

Os principais partidos na Aliança Unida Iraquiana são o Conselho Supremo pela Revolução Islâmica no Iraque, apoiado pelo Irã, o Congresso Nacional Iraquiano, liderado por Ahmed Chalabi - um ex-aliado do Pentágono, que agora o considera inimigo -, e o Partido Dawa, do vice-presidente interino Ibrahim al-Jaafari. O Conselho indicou Adel Abdul Mahdi, atual ministro das Finanças, para primeiro-ministro, enquanto o Dawa quer Jaafari.

O porta-voz da aliança, Human Hamoudi, disse que hoje será tomada a decisão. Segundo analistas políticos, a última palavra caberá ao grão-aiatolá Ali al-Sistani, principal autoridade religiosa xiita. Como a aliança xiita dependerá do apoio dos curdos para conseguir os dois terços de votos, é provável que chegue a um acordo para apoiar Talabani na presidência. Os líderes curdos também vêm exigindo que a Constituição conceda autonomia para suas províncias, no norte, e o "fim da arabização" de Kirkuk.

As autoridades eleitorais divulgaram o resultado da apuração no domingo, mas só depois de amanhã informarão o número de cadeiras que cada grupo obteve. Isto porque amanhã termina o prazo para os candidatos que se sentirem prejudicados entrarem com ações na Comissão Eleitoral.

Desde domingo à noite, 19 pessoas foram mortas em diferentes ataques no Iraque, na maioria na região ao norte de Bagdá. Além disso, cinco soldados iraquianos foram seqüestrados.

Extremistas ameaçam decapitar o iraquiano Minas al-Yousifi, seqüestrado no fim de semana, se não receberem o pagamento de um resgate. Yousifi é líder de um pequeno partido cristão e tem nacionalidade sueca. Os seqüestradores ainda exigem a fixação de um prazo para a retirada das tropas dos EUA.