Título: Rússia libera carne de seis Estados
Autor: Renata Veríssimo e Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Economia, p. B13

São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul podem voltar a exportar o produto

BRASÍLIA - A Rússia anunciou ontem o fim do embargo às importações de carne bovina e suína de seis Estados brasileiros. A medida, segundo anunciou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, durante visita a Rio Verde, vale para os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. O ministro disse que a decisão russa de retomar as importações de carne do Brasil "comprova a eficiência tecnológica no combate a doenças que impedem às exportações". O governo russo proibiu as importações de carne do Brasil em 20 de setembro do ano passado, quando foi detectado um foco de febre aftosa no município Careiro do Várzea, no Amazonas. Em novembro, a Rússia liberou as importações de Santa Catarina, o único Estado brasileiro livre de aftosa sem vacinação. Em fevereiro deste ano, as autoridades russas suspenderam o embargo às importações de frango e produtos derivados, com exceção dos Estados do Pará e Amazonas. "A notícia é formidável porque esse problema afetava duramente as exportações de carnes de frango, suína e bovina e essas questões foram eliminadas", disse Rodrigues.

Uma missão brasileira vai negociar com o governo russo o fim do embargo também para as importações do Mato Grosso e Tocantins.

O Brasil era o maior exportador de carne bovina e suína para a Rússia antes do embargo. A carne bovina brasileira tinha uma fatia de 35% das importações russas; a carne suína, de 74%. O frango brasileiro tinha 26% do mercado russo, atrás apenas dos Estados Unidos, que domina 60%. Do lado brasileiro, as exportações para a Rússia somaram US$ 867 milhões, 14% das vendas externas brasileiras de carnes em 2004. Com o fim do embargo, as exportações brasileiras de carne devem repetir o desempenho do ano passado, quando a receita ficou em US$ 6 bilhões, dos quais US$ 2,5 bilhões só da carne de frango.

OMC

Os principais negociadores do Brasil para a Organização Mundial do Comércio (OMC) apontam que o fim do embargo russo às carnes nacionais não muda a posição do País nos debates para a entrada de Moscou na OMC. Para que a Rússia faça parte da entidade máxima do comércio, precisa negociar acordos comerciais com cada um de seus parceiros. No caso do Brasil, o entendimento está bloqueado diante das cotas dadas para as exportações de carne do País, consideradas insuficientes.

Para o subsecretário de Assuntos de Integração do Itamaraty, embaixador Clodoaldo Hugueney, os problemas em relação ao entendimento para a entrada de Moscou na OMC persistem. "O fim do embargo não tem um efeito sobre nossa posição. Acreditamos que as cotas que nos foram oferecidas não são adequadas", afirmou o diplomata, que esta no Quênia para reuniões da OMC.

Os russos distribuíram cotas para as exportações de carne de frango, suínos e bovinos. Mas reservaram grande parte do mercado para americanos e europeus, o que não agradou o Brasil. Moscou alega que fez a divisão com base no volume exportado por cada país, mas, para o Brasil, esse volume foi baseado em anos em que as vendas não foram significativas.