Título: Economistas contestam política do BC
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2005, Economia, p. B3

Para a maioria, não é preciso novo aumento da taxa Selic para cumprira meta inflacionária de 5,1% deste ano O Banco Central (BC) está cada vez mais isolado na defesa da continuidade da atual política monetária restritiva. São poucos os economistas que concordam com o argumento de uma nova alta da taxa Selic para garantir o cumprimento da meta inflacionária, de 5,1%, estabelecida para este ano. Na avaliação dos economistas, os índices de inflação são pressionados pelos preços administrados, não pelo aumento da demanda. "O governo está dando o remédio errado para o paciente. O problema não é a demanda", argumenta o diretor de MBA da Fundação Álvares Penteado (Faap), Tharcísio Bierrenbach de Souza Santos.

Segundo ele, a gestão do País está bastante alinhada ao que os credores querem. "O problema é administrar isso com o excesso de conservadorismo praticado pelo governo." Na opinião dele, numa economia em que a inflação é puxada para cima pelos preços administrados por razões de indexação de contratos, a meta de inflacionária deveria ser fixada entre 5,8% e 6%, não em 5,1%.

Por conta disso, Santos acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidirá, mais uma vez, na quarta-feira, por um aumento de 0,5 ponto porcentual na taxa de juros. No mês que vem, a previsão dele é que haja mais um avanço de 0,25 ponto porcentual. A partir de abril, haverá uma acomodação. Mas novos cortes na Selic somente devem ocorrer no segundo semestre.

Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, não há fatores que justifiquem mais aumentos na Selic, especialmente porque o País já tem a maior taxa de juro real do mundo, próximo de 12% ao ano. Resultado disso é que os demais países têm apresentado taxas de crescimento bem superiores às do Brasil.

INVESTIMENTO

Na opinião dele, os efeitos dos últimos aumentos na taxa básica devem começar a aparecer nos próximos meses. "Quem vai investir na produção se o Banco Central sinaliza que a demanda vai diminuir", questiona Oliveira. Segundo o executivo, com juros tão elevados, em 18,25% ao ano, as empresas preferem aplicar seus recursos no mercado financeiro, em títulos do governo federal, do que investir na produção.

O problema, argumenta, é que quanto mais sobe a taxa de juros, mais sobem os custos do governo com a dívida pública. "Com o aumento dos gastos, sobra menos dinheiro para o Estado aplicar na qualidade de vida da população." Segundo os economistas, uma alternativa que vem sendo adotada pelo governo para fazer frente às suas despesas é o aumento da carga tributária. "É uma política monetária muito conservadora, que aborta uma parte do crescimento econômico", completa Tharcísio Bierrenbach de Souza Santos, da Faap.

O sócio-diretor da Rosemberg & Associados, Dirceu Bezerra Jr., lembra que o aumento dos juros também tem efeito sobre a cotação do dólar - que fechou ontem em R$ 2,58, o menor nível desde 3 de junho de 2002. Um dos motivos é que a Selic alta atrai capital estrangeiro de curto prazo em busca de melhores rentabilidades. Mas, no mercado interno, o real valorizado prejudica as contas externas, diminui as exportações e eleva as importações.

Bezerra Jr. também critica a meta de inflação estabelecida para este ano. Segundo ele, o governo deveria ter fixado um objetivo mais factível. "O governo deveria estabelecer uma meta menos ambiciosa e mais realista", avalia Santos, da Faap.