Título: Furlan é contra a elevação do juro de longo prazo
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2005, Economia, p. B3

Ministro diz que a TJLP é única fonte de financiamento barato CARACAS - A posse do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, na quinta-feira, será marcada por forte pressão do empresariado pela redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que remunera os financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES) a projetos de investimento e de modernização de fábricas. No governo, a discussão já se tornou tão polêmica quanto as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica de juros, a Selic. Ontem, o ministro de Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, aliou-se ao presidente do BNDES, Guido Mantega, contra a elevação da TJLP, defendida pelo secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy. "Tenho a mesma opinião do presidente do BNDES. O Brasil necessita desesperadamente de investimentos. Por isso, não podemos matar a nossa única fonte de recursos com taxa de juros de longo prazo", disse Furlan.

Recentemente, Levy propôs que a TJLP passasse a seguir os movimentos da Selic. Hoje, a TJLP é composta por uma taxa de 3% mais um spread (remuneração). Para Furlan, a atual TJLP é "razoável" e uma eventual redução poderá ser resultado da mudança na "antiga" estrutura tributaria do País.

"A Venezuela tem uma taxa de juros nominal de 8% e inflação de 14%. Ou seja, sua taxa de juros é de 6%. Não é esse o modelo que queremos para o País", explicou Furlan. "Talvez valha a pena alterar nosso modelo tributário", completou, em sintonia com outra antiga demanda dos empresários.

O ministro escapou de opinar sobre a Selic ao afirmar que não se "dedica mais ao assunto". Em uma clara mudança de atitude, Furlan insistiu que o atual nível da Selic não está reduzindo o ânimo dos empresários de investir porque há estímulos da nova direção do BNDES.

Cuidadoso para não se confrontar novamente com o Banco Central (BC), Furlan declarou que as iniciativas do BC de recompor as reservas internacionais são uma das medidas que vêm impedindo uma apreciação ainda maior do real em relação ao dólar.

A decisão do BC de lançar posições de compra futura de dólar também estão trazendo resultados benéficos para a movimentação cambial, na opinião do ministro. "Poderíamos estar com uma taxa pior se não fossem essas ações do Banco Central", insistiu o ministro.

Para Furlan, o fato de o câmbio atualmente oscilar em torno de R$ 2,60 por dólar - considerado baixo pelos exportadores - não vai alterar, no curto prazo, as projeções do governo para a evolução do comércio exterior este ano. O ministério projeta um total de US$ 108 bilhões em exportações. Para o ministro, as operações de comércio exterior seguem uma lógica de médio e de longo prazos e os empresários continuam otimistas em relação às estimativas do mercado de que o câmbio subirá para R$ 2,80 por dólar no fim do ano.