Título: Copersucar vende a marca União
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Economia - negócios, p. B17

Nova América assume divisão de varejo, enquanto coperativa se prepara para operar exclusivamente com grandes volumes

A Cooperativa de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açucar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar) formalizou ontem a venda da marca União, uma das mais antigas do varejo brasileiro, que completa em outubro 95 anos. A operação foi fechada com o Grupo Nova América. O negócio foi selado ontem na sede da Copersucar, no bairro da Mooca, em São Paulo. As sete marcas vendidas, todas derivadas do Açúcar União (União, Doçula, Neve, Glaçúcar, Cristalçúcar, Único e Doçúcar) detêm 40% do mercado de açúcar no varejo brasileiro, segundo a ACNielsen. O valor da transação não foi divulgado, mas o mercado estima que o negócio chegou a, no máximo, R$ 80 milhões, para amortização em cinco anos. "Havia mais desejo da Copersucar em vender do que um grande desejo do mercado em comprar", disse uma das fontes do mercado ouvidas pelo Estado. A empresa publica hoje nos principais jornais do País um fato relevalente para informar o mercado.

A venda tem cunho estratégico para a cooperativa. Na verdade, começou a ser desenhada entre 1997 e 1998, quando uma assembléia de associados decidiu paulatinamente tirar a Copersucar das operações de varejo e se concentrar na venda de grandes volumes de álcool e açúcar para o setor industrial no Brasil e para clientes internacionais.

"Decidimos sair do quilo para nos concentrar em toneladas", explica em tom de brincadeira o presidente do Conselho de Administração da Copersucar, Hermelindo Ruete de Oliveira. O primeiro movimento em direção à então nova estratégia foi a operação de alienação das marcas de café Caboclo, Pilão e União para a norte-americana Sara Lee, em 2000. Agora, a venda da marca União e das linhas de produtos conclui a estratégia deflagrada no final da década de 1990.

Além das sete marcas e de incorporar toda a operação de varejo (marketing, comercialização e distribuição), a Nova América assume dois ativos industriais, uma usina de refino localizada em Piedade (RJ) e uma usina de açúcar cristal instalada em Sertãozinho (SP). No total, cerca de 1.800 funcionários serão deslocados agora para a Nova América. Mesmo sem as marcas de varejo, a Copersucar negociou uma cláusula no contrato em que mantém o fornecimento de açúcar cristal para o refino. Além disso, a unidade de Limeira, no interior de São Paulo, continuará a produzir o açúcar refinado União. "Seremos um prestador de serviço e um fornecedor de matéria-prima, condição que nos será muito favorável", explica Oliveira.

A "situação favorável" tem relação com a manutenção das receitas para a Copersucar. A área de varejo representava 13% do faturamento bruto global da cooperativa na safra de 2004/2005 de R$ 4,7 bilhões (resultado R$ 1 bilhão superior ao da safra anterior). O valor das operações de varejo chegou a R$ 611 milhões. "Iremos perder uma fração deste faturamento, apenas a parte relativa ao valor agregado. Como manteremos o fornecimento da matéria-prima, a queda não será equivalente à transferência do negócio para a Nova América", diz.

Pelo contrato, o fornecimento por safra para a Nova América deverá variar entre 500 mil e 800 mil toneladas por ano, o que inclui produto refinado e matéria-prima. O período de fornecimento dependerá da própria compradora. A Nova América já tem o próprio portfólio de produtos para o varejo, entre os quais a linha de açúcar da marca Dolce. Além dessa, desenvolveu nos últimos anos outras linhas de produtos. Além das variações de açúcar, a empresa tem linha de sucos (Frutteto, Fast Fruit e Top Fruit), álcool para uso doméstico, adoçante de mesa e chá (Top Tea). A empresa mantém linhas de produtos para uso industrial, como açúcar convencional, líquido e levedura.

Em nota, Roberto de Rezende Barbosa, presidente do Grupo Nova América, disse que a aquisição da União "coroa" o objetivo da empresa de reforçar a operação de varejo. "A marca União é tradicional, possuiu um share of mind importante, o que nos motivou a realizar a compra e investir no negócio", afirmou.

A auto-crítica da Copersucar indicava que a coperativa não tinha recursos para manter as operações do varejo. "A manutenção deste negócio requereria da Copersucar investimentos no desenvolvimento de outros produtos para o mercado chamado de mercearia doce. O problema é que o dinheiro é o mesmo. Preferimos nos concentrar na operação industrial para oferta de grande volumes, o que temos como vocação", explica o presidente do Conselho de Administração.

INVESTIMENTO

O principal investimento da cooperativa para melhorar a performance de atendimento de grandes compradoras de açúcar e álcool é visível no Porto de Santos. O Terminal Açucareiro Copersucar (TAC) entra na safra 2005/2006 com a maior capacidade de embarque de açúcar do País. Passará de 2,5 milhões para 3,3 milhões de toneladas por ano. Um investimento de R$ 60 milhões dará um segundo armazém com capacidade para 110 mil toneladas de carga estática, além de permitir armazenagem de pelo menos três tipos de granéis. Em açúcar ensacado, a capacidade continua a ser de 300 mil toneladas por ano.

Tudo para dar conta dos aumentos das vendas da commodity no mercado internacional. A previsão é que a empresa - hoje a maior exportadora individual do País e terceira em volumes do mundo (atrás apenas da Tailândia e Austrália) - embarque 2,8 milhões de toneladas, 100 mil toneladas a mais. Os volumes em álcool são igualmente crescentes, confiança lastreada em dois pontos: o aumento do preço internacional do petróleo e as iniciativas de governo para redução de emissões de gases de efeito estufa previstas no Protocolo de Kyoto. A Copersucar acredita que poderá exportar 800 milhões de litros na próxima safra, 200 milhões a mais do que na safra 2004/2005.