Título: Queda do risco país pode reduzir juro, diz Meirelles
Autor: Adriana ChiariniJacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2005, Economia, p. B4

Presidente do BC deixou claro que estava falando numa perspectiva de médio e longo prazos, e não sobre a reunião do Copom, que amanhã decide o porcentual da taxa Selic RIO - O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem no Rio que a diminuição do risco Brasil e da vulnerabilidade externa pode levar à redução das taxas de juros. Ele deixou claro que estava falando numa perspectiva de médio e longo prazos, e não dando nenhum recado sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de hoje e de amanhã. Meirelles, que participou de um seminário na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), disse que a política do BC tem se provado adequada para o País. "O fato é que o Brasil está crescendo." Ele afirmou que as decisões do Copom são técnicas e reagem a futuras altas de preços.

O presidente do BC observou que o fato de a taxa básica (Selic) descer e subir no Brasil está de acordo com o que ocorre na maior parte dos países. A questão que deveria ser levantada, na sua opinião, é por que os juros brasileiros no segmento de livre mercado são tão altos. Ele indicou que o risco e a vulnerabilidade, que estão em queda, devem explicar aquele fato.

O segmento de livre mercado é aquele no qual pessoas e empresas tomam recursos emprestados, principalmente de bancos, em bases comerciais. Ele é diferente do crédito direcionado, como os financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), nos quais a taxa de juros é bem mais baixa, por causa de subsídios ou outros esquemas determinados pelo governo. A Selic, definida pelo BC (o Copom pode aumentá-la novamente na reunião desta semana), está em 18,25% ao ano, e é o parâmetro básico do segmento de taxas livres.

Para Meirelles, a queda do risco Brasil deve levar à redução dos juros de livre mercado, trazendo-os para níveis mais próximos do crédito direcionado. "Toda esta diminuição da vulnerabilidade e do risco vai fazer com que haja uma trajetória cadente, permitindo a unificação das taxas nos mercado livre, direcionado e externo", previu.

Meirelles acredita que o crescimento do País vai desacelerar um pouco em 2005, para cerca de 4%, mas ainda estará em nível "historicamente bastante elevado". Ele sublinhou como risco para a economia brasileira e mundial o cenário dos Estados Unidos: "Vamos trabalhar com a hipótese de cenário (externo) positivo, mas com riscos importantes, com o mundo olhando com atenção o ajuste dos mercados ante o déficit em conta corrente dos Estados Unidos".

Para Meirelles, o crescimento do PIB brasileiro de 6,1% no terceiro trimestre do ano passado, ante igual período de 2003, indica "uma trajetória forte e sólida de recuperação, com bases para um crescimento sustentado da economia". Ele observou que a demanda externa contribuiu positivamente e quase de forma exclusiva para o crescimento da economia a partir do segundo trimestre de 2001. De 2004 em diante, porém, ainda que a demanda externa tenha permanecido forte, a interna foi crescente. Já no terceiro trimestre do ano passado, o mercado doméstico igualou-se ao externo como motor de crescimento, e "com tendência crescente".

Segundo o presidente do BC, a recomposição da renda está fazendo com que setores que dependem da massa salarial comecem a crescer no País: "Estamos tendo um processo clássico, no qual os bens duráveis lideram o crescimento e depois os não duráveis reagem, num modelo equilibrado". Meirelles destacou também o crescimento dos investimentos, observando que, "com a maior previsibilidade que começa a ocorrer no Brasil, o horizonte de planejamento se alonga e exige menores taxas de retorno".

Ele frisou ainda que a produção industrial do País está crescendo sobre níveis que já são recordistas, e mostrou gráficos do desempenho do varejo que indicariam que o comércio teve forte crescimento em dezembro. Meirelles exibiu também gráficos da expansão da massa salarial real, mais relevante para o mercado doméstico - na sua visão - do que o rendimento médio, que pode cair, por exemplo, se o nível de emprego cresce em setores que pagam menores salários.

O presidente do BC reiterou que a estabilidade é fundamental para o crescimento sustentado da economia, citando o exemplo de diversos países que desde o início da década de 90 cresceram muito mais rápido que o Brasil, e com baixa inflação, como Cingapura - que cresceu numa média anual de 6,2% nos últimos 14 anos, com inflação anual média de 1,5% no período.