Título: AmBev paga R$ 2,9 bi a acionistas
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2005, Economia - negócios, p. B20

Empresa recupera mercado em 2004, incorpora Labatt, mas gasta 32% a mais em vendas e marketing de cerveja e refrigerante

A AmBev encerrou 2004 com vendas líquidas de R$ 12 bilhões, que resultaram em geração líquida de caixa (Ebitda) de R$ 4,5 bilhões - crescimento de 47,7%, apesar de ter registrado um lucro líquido de R$ 1,1 bilhão, inferior em 17,7% ao de 2003. Mesmo assim, a empresa surpreendeu ontem ao consolidar remuneração aos acionistas de R$ 2,9 bilhões, dos quais R$ 1,3 bilhão em dividendos mais juros sobre o capital próprio e R$ 1,6 bilhão usado em programas de recompra de ações.

O diretor-financeiro da empresa, João Castro Neves, garantiu ontem que esse repasse histórico aos acionistas não compromete investimentos futuros. Quanto à queda no lucro, atribuiu a redução aos custos de incorporação da Labatt, que passou a fazer parte da AmBev por meio da sua fusão com a belga Interbrew, que constituiu a InBev, desde 27 de agosto do ano passado.

O maior destaque da companhia na consolidação dos resultados foi o último trimestre do ano (outubro, novembro e dezembro) quando a geração de caixa atingiu R$ 1,7 bilhão, 66,2% maior que no mesmo período de 2003. As operações no Brasil tiveram participação de 65,7% nesse resultado, a América do Norte (Labatt) contribuiu com 24% e os países hispânicos da América Latina (Hila) responderam por 10,3%.

Castro Neves realçou também a recuperação de mercado pela cervejaria no País, encerrando 2004 com fatia de 68,1% em relação a 63,2% do ano anterior.

Os volumes de venda de cerveja no Brasil também cresceram 14,6% no quarto trimestre - segundo dados da ACNielsen, o crescimento total deste mercado em 2004 foi de 1,8%. A receita por hectolitro teve incremento de 2,2%, chegando a R$ 122,8. Por volta do dia 15 de dezembro, a empresa aumentou os produtos em média em 5%, mas o reflexo do reajuste só deve aparecer nos números do primeiro trimestre.

A fatia da empresa no mercado de refrigerantes também aumentou, chegando a 17% (era de 16%) e a margem de ganho nesses produtos chegou a 29%, um recorde.

Para sustentar o crescimento das vendas, a AmBev também teve de investir mais em maketing e vendas. Foram R$ 1,58 bilhão, dos quais R$ 833,7 milhões no Brasil, índice 32,8% acima do de 2003. As previsões e os dados de investimento para 2005 só devem ser divulgados hoje. Castro Neves, porém, atribuiu a melhora dos números no quarto trimestre de 2004 à recuperação da economia e aposta que a retomada deverá continuar.

Com uma dívida de R$ 7,2 bilhões em dezembro do ano passado, a AmBev registrou um custo de carregamento dessa dívida de R$ 470 milhões em 2004. Só que Castro Neves também comemora o fato de que a empresa, agora com a incorporação da Labatt, terá maior prazo e melhores condições para rolar dívidas.

Entre as novidades que a InBev está para divulgar, destaca-se o ingresso da Brahma no grupo das marcas globais da InBev, ao lado de Stella Artois e Becks. O lançamento global da Brahma deve ocorrer ainda este ano e a Stella Artois, que já é vendida na Argentina desde dezembro, deve entrar no País em breve.