Título: Ninguém os ouve, mas tratamento é de rei
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Nacional, p. A4

Apesar das críticas que fazem ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, seus antigos aliados relutam em romper com ele. Uma das razões para isso é que, apesar de ainda não terem assistido a nenhum dos esperados grandes embates para o pagamento da dívida social, eles nunca foram tão bem tratados pelo governo como estão sendo agora. Líderes do MST, da CPT e da Contag circulam com desenvoltura no Ministério do Desenvolvimento Agrário, no Incra e no Palácio do Planalto. A maior parte dos superintendentes regionais do Incra nomeados por este governo saiu dos quadros destas organizações. As cooperativas e associações que o MST espalhou pelo País nunca receberam tantos recursos como agora. A reforma agrária anda devagar, mas o presidente da República tem ido a encontros de sem-terra e trabalhadores rurais. Quando não pode, manda seus ministros. É um processo contraditório: ao mesmo tempo que agrada os aliados, o governo não atende suas reivindicações. Um exemplo dessa imbroglio aconteceu dias atrás. Na sexta-feira, dia 25, o ministro Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência da República, recebeu líderes de 43 organizações de defesa da reforma agrária. Todos saíram do encontro convencidos de que o governo Lula não pouparia esforços para cumprir a meta de assentamento de 430 mil famílias de sem-terra, até 2006. Mas na segunda-feira eles foram surpreendidos com a informação de que no bolo de verbas do Orçamento contingenciadas pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, R$ 2 bilhões vão sair do Desenvolvimento Agrário.