Título: Tensão toma conta do PP, que não aceita qualquer oferta
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - O PP de Severino Cavalcanti (PE) já começa a sofrer a Tensão Pré-Reforma (TPR). Pior: não se conforma com a dificuldade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cortar na própria carne. Agora, porém, decidiu adotar outra tática: desdenhar de ministérios capitaneados por petistas, como Saúde, nas mãos de Humberto Costa, e Cidades, comandado por Olívio Dutra. "Essa reforma será uma meia-sola", protesta o deputado José Janene (PR), líder do PP na Câmara. "Mas não tem problema, porque nós não queremos Cidades nem Saúde. Lá tem muito petista enfronhado na estrutura e, para tirar, leva uns seis meses. Assim não dá!"

Enquanto o presidente do PP, Pedro Corrêa, afirma com todas as letras que depois da eleição de Severino o partido deve ganhar no mínimo dois ministérios, Janene disfarça o interesse. Diz que é melhor ficar sem nada para não ser acusado de fisiológico.

"Não vamos barganhar o parecer do Severino", proclama, numa referência à decisão a ser tomada pelo presidente da Câmara, que tende a arquivar representação do PSDB por crime de responsabilidade contra Lula. Em discurso, Lula disse ter mandado um "alto companheiro" fechar a boca sobre suposto esquema de corrupção no governo Fernando Henrique Cardoso.

"Isso tudo é uma bobagem, mas não vamos vincular nada a ministério", desconversa Janene. "Até porque ministro, com esse brutal corte de R$ 15,9 bilhões no Orçamento, será um pedinte de gravata na porta da Fazenda."

Mesmo assim, a bancada do PP já está escolhendo seus "ministeriáveis". O governo quer Pedro Henry (MT), cotado para Esportes. Lula conversou com ele em dezembro e prometeu-lhe uma vaga. Como demorou e as coisas mudaram, os caciques do PP têm outras preferências. E a pasta não parece tão atraente.