Título: Condoleezza elogia 'relação excelente' entre Lula e Bush
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2005, Nacional, p. A5

Secretária americana cita boa convivência entre osdois governos para explicar que avanço da esquerda na AL não preocupa

WASHINGTON - Numa entrevista à Univisión, canal de TV para a população hispânica dos EUA, a secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice disse ontem que o governo dos Estados Unidos não se preocupa com as recentes vitórias da esquerda nas eleições da América Latina. Como exemplo de que isso não traz problemas, citou as relações com o Brasil. "Temos algumas relações muito boas, por exemplo, com o presidente Lula, do Brasil", acrescentou a secretária. "É, de fato, uma relação excelente (a que existe) entre o presidente (George W. Bush) e o presidente Lula". Condoleezza explicou que, "no contexto da democracia, esses países estão elegendo os seus líderes. Se são de esquerda, de direita, de centro-esquerda ou centro-direita, enquanto estiverem dentro da estrutura democrática, creio que os Estados Unidos devem respeitar essa condição".

A entrevista foi dada pouco antes de a secretária viajar para o México, onde uma campanha presidencial está em curso e o grande favorito, no momento, é o prefeito da Cidade do México, Andrés Manoel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática, de esquerda. Há uma semana tomou posse, como novo presidente do Uruguai, também um candidato esquerdista, Tabaré Vásquez. Na cerimônia estiveram presentes dois vizinhos de peso, Lula e o argentino Néstor Kirchner, também de partidos de esquerda.

Ela ressaltou ainda, sobre o avanço dos governos esquerdistas na região, que isso é uma demonstração de que essas populações já não estão preocupadas apenas com crescimento econômico, mas também pretendem que os benefícios desse crescimento sejam melhor distribuídos. Os cidadãos de vários países latino-americanos quer saber agora se de fato os benefícios desse crescimento chegam às pessoas, "se a saúde melhora, se a educação melhora".

Esse é um objetivo do qual (o presidente) Bush compartilha, e que falou a respeito dele na cúpula extraordinária das Américas, realizada em janeiro de 2004, em Monterrey, no México. O que foi dito, na ocasião, foi que "o próximo capítulo para o processo da Cúpula das Américas, o próximo capítulo para o qual estamos preparando o consenso de Monterrey, é assegurarmos que o crescimento e a vitalidade econômica consigam realmente mudar a vida das pessoas.

Perguntada, tambéem, sobre as relações da Casa Branca com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ela afirmou: "Como foi eleito, devia governar democráticamente. Em segundo lugar, não pode interferir nos assuntos de países vizinhos - uma referência, certamente, ao recente episódio entre Venezuela e Colombia a respeito do sequestro de um guerrilheiro colombiano em território venezuelano.

Condoleezza qualificou de "completamente absurda" a acusação do governo de Caracas de que Washington estaria planejanto assassinar o presidente Chávez. "É uma acusação totalmente ridícula. A única preocupação que temos é que a Venezuela seja governada democraticamente". Esse compromisso, lembrou, está presente na Carta Democrática, assinada pelos 34 países-membros da Organização dos Estados Americanas, "e todos devemos respeitá-lo".