Título: Vice de sindicato tem aviões e helicóptero
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Nacional, p. A10

Otton Roma trabalha há 39 anos na entidade comandada por seu pai, no Rio RIO - Dois aviões, um helicóptero, uma caminhonete e um veleiro, com valores que, somados, vão de R$ 668.700 a mais de R$ 1 milhão. A frota de ar, terra e mar não pertence a um grande empresário, mas a alguém cuja missão é defender trabalhadores pobres: o vice-presidente do Sindicato dos Comerciários no Rio, Otton da Costa Mata Roma. Filho de Luisant Mata Roma, que preside a entidade desde 1966, Otton tem registrados o bimotor Cessna 402B prefixo PT-JRR; o monomotor EMB-711 PT-NCZ; e o helicóptero HU30, modelo 269B, PT-HJG. Também em seu nome, o Detran registra a Ford F/250 XLT W20, 2004, placas LTB0275, e a Capitania dos Portos, o barco à vela batizado de Brasileiro. Procurado por telefone, Otton não retornou pedido de entrevista do Estado. De acordo com o site do Departamento de Aviação Civil (DAC), o bimotor leva oito passageiros e foi transferido em 14 de julho de 1999. No mercado de aviões usados, um modelo semelhante vale de US$ 85 mil a US$ 150 mil (R$ 227.800 a R$ 402 mil), com média de US$ 120 mil (R$ 321.600). O DAC também informa que o EMB, com três lugares, tem como data de compra ou transferência 5 de agosto de 2004. Deve valer de US$ 60 mil a US$ 80 mil (R$ 160.800 a R$ 214.400), com média de US$ 70 mil (R$ 187.600). Já o helicóptero, para dois passageiros, foi passado em 18 de abril de 2001. Preço provável: de US$ 70 mil a US$ 110 mil (R$ 187.600 a R$ 294.800), com média US$ 100 mil (R$ 268.000).

Na Capitania dos Portos do Rio de Janeiro, está registrado que o Brasileiro tem 4,23 m - uma embarcação pequena, de fibra de vidro, fabricada em 1982, cujo valor de mercado aproximado deve oscilar entre R$ 2.500 e R$ 5.000. A caminhonete está sob regime de alienação fiduciária (foi comprada com financiamento, constituindo sua própria garantia) e vale aproximadamente R$ 90 mil.

Somados, os valores médios chegam a cerca de R$ 870.000. Os cálculos foram feitos com o dólar a R$ 2,68, registrado na quinta-feira. O patrimônio em veículos registrado em nome do sindicalista contrasta com as condições econômicas da categoria, com cerca de 300 mil pessoas, à qual Otton pertence. A convenção coletiva em vigor, de junho de 2004, fixa duas faixas de piso salarial, uma de R$ 318, outra de R$ 350. O reajuste, a partir de 12 de maio de 2004, foi de 6% para quem ganhava até R$ 2.500; acima daí, valeu um índice a ser "livremente pactuado". De maio de 2003 a abril de 2004, o IPCA foi de 5,26%.

O Estado tentou insistentemente na semana passada um contato com Otton, que foi procurado sete vezes por telefone na sede do sindicato. Uma secretária anotou o recado, com o assunto da reportagem, e depois confirmou que o vice-presidente o recebera. Chegou a dizer, na sexta-feira, que seu chefe daria entrevista, atribuindo a demora a reuniões. Otton Mata Roma, contudo, não ligou de volta.

PARENTE

Cercar-se de parentes no sindicato é uma característica do pai de Otton, o advogado Luisant Mata Roma, um dos mais antigos sindicalistas do País. Sua mulher, Aderita da Costa Mata Roma, é coordenadora das creches do sindicato, uma delas a Tia Aderita. Uma filha, Mônica, foi nomeada para dirigir o Colégio Paulo VI, também do sindicato. Uma irmã do sindicalista, Luzanir, já foi chefe de Recursos Humanos. "Os parentes não traem nunca", disse Roma ao Estado, em entrevista em 2003, quando assegurou que parente que não tiver competência não trabalha com ele. Segundo Roma, Aderita foi contratada por decisão de assembléia, porque trabalhava sem registro - a contratação em carteira é de 1.º de agosto de 1987.

Segundo Relatório Anual de Atividades do sindicato, Otton foi um dos diretores da entidade que quitaram em 2002 os apartamentos que compraram no Edifício Roma IX, construído pela entidade na Ilha do Governador. Outros dois dirigentes sindicais na época - Bartolomeu Vieira da Silva e Mário Rocha - fizeram o mesmo. O "valor real" de cada imóvel, diz o documento, é R$ 56.032.

O estilo personalista também foi levado às paredes da sede do sindicato, que chegaram a ser decoradas com ladrilhos com o nome Roma - outra alusão ao presidente, no 12.º mandato sindical.