Título: Itamaraty investiga notícia sobre morte de refém brasileiro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Internacional, p. A13

Citando fontes não especificadas em Bagdá, a agência 'Ansa' informa que Vasconcellos teria morrido

BAGDÁ - O Ministério das Relações Exteriores do Brasil investigava ontem uma informação da agência de notícias italiana Ansa, segundo a qual o engenheiro brasileiro João José Vasconcellos Jr., seqüestrado no Iraque em 19 de janeiro, tinha sido assassinado por seus captores. A Ansa atribuiu sua informação a "fontes em Bagdá" que não especificou. Contatado pelo Estado em Amã, o responsável pelo Núcleo Iraque da Embaixada do Brasil na Jordânia, Paulo Joppert, declarou apenas não ter dados para confirmar nem desmentir a informação. Também em Amã, o embaixador extraordinário do Brasil para o Oriente Médio, Afonso Celso de Ouro-Preto, encarregado direto de tratar do caso de seqüestro, tentava comunicar-se ontem com autoridades iraquianas em busca de informações mais concretas.

Quando foi seqüestrado, Vasconcellos Jr. trabalhava para a Construtora Norberto Odebrecht, subcontratada por uma construtora dos EUA para restaurar uma usina termoelétrica em Beiji, cidade 180 quilômetros ao norte de Bagdá. Durante o seqüestro, os rebeldes que emboscaram seu veículo mataram um agente de segurança britânico e o motorista iraquiano. Dias depois, o grupo Brigadas Mujahedin enviou à rede de TV Al-Jazira um vídeo anunciando o seqüestro do funcionário da Odebrecht e exibindo documentos de identidade e cédulas de real.

O irmão do engenheiro, Luiz Henrique Vasconcellos, que mora no Rio, disse que a família está à espera de notícias concretas. "Já recebemos todo tipo de informação, não sabemos o que é verdade e o que é mentira", declarou.

EX-REFÉM, A FONTE?

A informação sobre a suposta execução do brasileiro teria sido passada pela jornalista italiana Giuliana Sgrena recém-libertada pelos rebeldes (ler mais na página 14), segundo relatou ao Estado uma fonte ligada ao Itamaraty.

Desde o seqüestro do engenheiro, não houve nenhum contato dos rebeldes com parentes do refém ou o governo brasileiro. Como acredita-se que Vasconcellos tenha sido ferido durante a ação de captura, ele supostamente teria morrido em conseqüência desses ferimentos. A suposição da fonte do Itamaraty é a de que a jornalista tenha sido informada disso pelo grupo que a manteve refém.

Cautelosos diante da versão, parentes de Vasconcellos entraram em contato o embaixador brasileiro em Roma, o ex-presidente Itamar Franco, para que ele tentasse descobrir a origem da informação da Ansa, mas não receberam nenhuma confirmação.

"Itamar entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores da Itália, que poderia ter recebido alguma informação do serviço secreto do país. Mas eles também não sabiam de nada", informou o irmão do refém. "Continuamos aguardando, porque não temos idéia de onde isso saiu."

O irmão do engenheiro disse ter acompanhado a libertação da refém italiana pela internet e afirmou que, a cada seqüestro solucionado, as dúvidas da família se ampliam. "Ficamos sem saber o que realmente está acontecendo lá", disse Luiz Henrique, assinalando que os seqüestradores não teriam ganhos políticos com a captura. "Mas se o que querem é dinheiro, não conseguimos entender porque não fazem contato". De acordo com Vasconcellos, a Odebrecht e a família já deixaram claro, até em matérias jornalísticas veiculadas na mídia árabe, que existe a disposição de negociar um resgate.