Título: Duas gerações e um mesmo objetivo: igualdade
Autor: Simone Iwasso
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Vida, p. A22

Só que agora o foco está na aplicação prática das conquistas anteriores e na questão dos direitos reprodutivos

Na década de 70, quando aderiu ao movimento feminista, a educadora Luzia Arlete Goes Bento, de 51 anos, tinha como desafios os rígidos costumes impostos às mulheres, a igualdade no mercado de trabalho e a conquista dos espaços políticos, até então unicamente masculinos. Em suas palavras "era uma época em que queríamos uma sociedade igual para as gerações futuras serem educadas de uma maneira diferente". Os homens eram barrados na militância e os discursos e atitudes tinham de ser radicais, por vezes até estigmatizados, para ser ouvidos e percebidos. Cerca de 30 anos depois, sua filha Mariana, de 23 anos, continua com a bandeira feminina, mas com diferenças no comportamento e no enfoque dos direitos. Faz parte de uma nova geração dos movimentos de mulheres, que buscam a participação masculina, querem dialogar e encontrar mudanças nas antigas soluções. Seu principal foco está na questão dos direitos reprodutivos e da aplicação prática das conquistas obtidas na lei pela geração de sua mãe. "A bandeira de luta das jovens tem semelhanças e diferenças com as gerações antigas, até porque para elas era mais difícil. Nós crescemos em uma época diferente, mas ainda desigual. Discordamos em alguns pontos, mas trabalhamos juntas."

Com suas diferenças e semelhanças, mãe e filha atuam na ONG Fe-Minina, um movimento de mulheres de Santo André. É também o caso da advogada Letícia Massumi, de 33 anos, consultora de organizações feministas na área dos direitos humanos e filha de uma feminista, que ainda hoje trabalha com mulheres vítimas de violência em São José dos Campos. "Houve uma geração que foi muito estigmatizada e avançou bastante. Mesmo assim, há questões culturais que precisam ser trabalhadas hoje", diz.

"Precisamos debater temas que até então estavam deixados de lado, como a saúde da mulher, os direitos sexuais e o aborto de fetos anencefálicos, que ainda será julgado pelo Supremo Tribunal Federal. São questões muito importantes agora", afirma. Sua ação se baseia na conquista de avanços no Judiciário e no Legislativo, com debates e projetos de lei. "É uma geração que sonha mais com os pés na realidade do que a minha, que achava que ia conseguir mudar tudo", diz a mãe, Alcione Massumi, de 52 anos.