Título: Brasileiro nunca teve tanto crédito
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Economia, p. B1

Total de empréstimos já chega a R$ 117 bilhões, mas deve crescer 70% nos próximos quatro anos, podendo chegar a R$ 200 bilhões O total de crédito dos brasileiros poderá bater a casa dos R$ 200 bilhões dentro de quatro anos por conta do grande impulso dado pelas parcerias fechadas nos últimos meses entre grandes bancos e redes varejistas para financiar o consumidor. Entre crédito pessoal, financiamento para compra de produtos, além do cheque especial, cartão de crédito e empréstimos imobiliários, o consumidor devia em janeiro R$ 117 bilhões, 50% mais que no mesmo mês de 2003 e muito distante dos R$ 15,7 bilhões de outubro de 1996, quando o Banco Central (BC) iniciou a estatísticas. Também a corrida desenfreada dos bancos pelo crédito com desconto em folha de pagamento deve engordar o volume de financiamentos. E o motor dessa expansão deverá ser o crédito pessoal, que não está vinculado à compra de bens, prevê o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Érico Sodré Quirino Ferreira, que estimou os números consolidados para o setor.

O saldo da carteira de crédito pessoal fechou janeiro em R$ 44,786 bilhões, com crescimento de 78,8% em 24 meses, superando, de longe, o ritmo de expansão das demais linhas de financiamento. "O saldo do crédito pessoal poderá dobrar em quatro anos e a perspectiva é que a taxa de crescimento dessa linha seja 50% maior que a voltada para a compra de bens."

A voracidade dos bancos e da lojas para emprestar e vender mais está estampada nos números. Só de dezembro para cá, foram fechadas cerca de dez parcerias entre bancos e lojas e entre bancos e financeiras. Os protagonistas mais freqüentes desses negócios são nada menos que Bradesco e Itaú, do lado dos bancos, e Casas Bahia, Lojas Americanas e Lojas Colombo, da parte do varejo.

"As parcerias juntam a fome com a vontade de comer", diz Ferreira. Na sua opinião, o apetite maior é dos bancos, interessados nos clientes das lojas para ampliar o volume de negócios. É que, apesar da taxa básica de juros estar hoje alta, em 18,75% ao ano, os mercados futuros já sinalizam um recuo. Com isso, os ganhos nas aplicações dos títulos públicos devem cair, o que torna mais palatável o crédito ao consumidor. "O pano de fundo desse movimento é a estabilidade macroeconômica, com recuperação do emprego e da renda."

Os bancos, no entanto, argumentam que a iniciativa parte das lojas. Interessadas em alongar os prazos de pagamento para o cliente, nos últimos meses elas foram bater à porta das instituições financeiras para obter recursos que alavanquem os negócios.

O Unibanco, por exemplo, pioneiro nesse casamento com o varejo, quando, em 2001, abriu uma financeira em sociedade com o Magazine Luiza, a Luizacred, se diz mais que satisfeito com o negócio.

O diretor da financeira, Arquimedes Salles, conta que a carteira de crédito da Luizacred aumentou 40% ao ano desde 2001 e a metade desse crescimento foi embolsado pelo banco, que fechou negócios de financiamento com outras redes, como Ponto Frio e Sonae, por exemplo.

O Bradesco, uma das instituições mais ativas nos últimos meses nas parcerias, que conquistou a noiva mais cobiçada do varejo, as Casas Bahia, continua animado com o mercado. "Estudamos novas parcerias. O impacto desse negócio é forte", diz o vice-presidente, Décio Tenerello. No 2.º semestre, o banco vai entrar diretamente no crédito para aposentados. Hoje 4,3 milhões de pensionistas recebem pelo Bradesco.