Título: Síria inicia hoje saída gradual
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2005, Internacional, p. A8

Tropas começarão a deslocar-se para região libanesa perto da fronteira síria

BEIRUTE - As tropas sírias estacionadas no Monte Líbano e no norte libanês começarão a ser removidas hoje para o Vale do Bekaa, perto da fronteira com a Síria, numa operação que deverá levar de dois a três dias, anunciou ontem o ministro da Defesa libanês, Abdul-Rahim Murad. Detalhes da remoção serão definidos hoje em Damasco pelos presidentes Bashar Assad, da Síria, e Emile Lahoud, do Líbano. O deslocamento constitui a primeira fase de uma remoção em duas etapas, anunciada no domingo pelo presidente da Síria, Bashar Assad, num discurso ao Parlamento, em Damasco. Em 1976, durante a guerra civil libanesa (1975-1990), a Síria enviou 40 mil soldados ao Líbano, e 14 mil ainda permanecem no país. Aliado sírio, o grupo xiita Hezbollah - o maior partido político libanês e o único em posse de armas - convocou uma manifestação pacífica para amanhã, no centro de Beirute, em apoio à Síria e contra a interferência do Ocidente nos assuntos internos do Líbano. O local do protesto fica perto da Praça dos Mártires, onde se localiza a mesquita em que foi enterrado o ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, assassinado no dia 14. Nessa praça a oposição tem feito manifestações pela retirada síria.

"O objetivo dos EUA e de Israel é levar o Líbano de volta ao estado de caos, como desculpa para uma intervenção estrangeira", disse o líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah. Ele rejeitou o chamado do Conselho de Segurança da ONU para que seu grupo seja desarmado. "A resistência não entregará suas armas porque o Líbano precisa da resistência para defender-se."

Em seu pronunciamento no sábado, Assad afirmou que numa segunda fase as tropas seriam remanejadas para a fronteira sírio-libanesa, mas não especificou de que lado elas ficariam nem o prazo final. Também não fez comentários sobre os agentes de inteligência sírios, cuja remoção também é exigida pela oposição libanesa, pelos EUA, ONU e União Européia. Horas depois do discurso, o ministro dos Assuntos da Imigração, Buthaina Shabath, deu a entender que todo o contingente ficará em território da Síria.

A Casa Branca reiterou ontem que não aceitará meias-medidas. Os EUA exigem a saída até maio de todos os soldados e agentes da inteligência. (AP, AFP e DPA)