Título: Indústria inicia o ano com fôlego para crescer
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Economia, p. B3

Após queda no ritmo de atividade no fim do ano, produção dá sinais de expansão

A indústria deve fechar o trimestre com forte crescimento de vendas, apesar dos sinais de desaceleração no ritmo de expansão da economia apontados por alguns indicadores. Empresas de vários setores, entre os quais eletroeletrônicos, máquinas e equipamentos, caminhões e calçados, tiveram bom desempenho em janeiro e fevereiro e esperam fechar o trimestre com crescimento de 10% a 50%, em relação a igual período de 2004. A Sandretto do Brasil, fabricante de máquinas injetoras de plástico, espera vender no mínimo 50% a mais do que no ano passado. Não parece uma tarefa difícil. Nos dois primeiros meses, o crescimento chegou a 80%, afirma o diretor comercial, Hugo Camisotti. A empresa dispõe hoje de uma carteira de pedidos equivalente a dois meses de produção. Há um ano, não passava de um mês.

"O mercado está bastante aquecido e reflete o crescimento da economia como um todo. Quem compra máquina é porque precisa produzir mais", diz o executivo. A Sandretto fornece máquinas para fabricantes de automóveis, eletroeletrônicos, brinquedos e embalagens, entre outros.

Na Semp Toshiba, uma das gigantes do setor eletroeletrônico, as vendas devem crescer 10% no trimestre. Em janeiro, a expansão ficou dentro dessa média, mas desacelerou-se em fevereiro para 5%. Esse resultado foi considerado natural pela empresa, porque foi um mês mais curto do que fevereiro de 2004, que teve 29 dias. "Em compensação, achamos que vamos crescer 15% em março, principalmente porque em meados do mês começam a chegar os pedidos do varejo para o Dia das Mães, data em que a cada ano se vendem mais produtos eletroeletrônicos", afirma Luiz Freitas, diretor de Vendas da Semp Toshiba.

O aquecimento do mercado de aparelhos de imagem e som é confirmado pela Philips. "Nossa expectativa é de crescimento de 15% em comparação com o primeiro trimestre do ano passado", diz José Fuentes, vice-presidente da Divisão de Eletroeletrônicos de Consumo da Philips do Brasil. Segundo ele, o aumento da demanda por equipamentos de áudio e vídeo é generalizado, embora os mais procurados sejam os aparelhos de DVD e televisores de tela plana.

"Ninguém pode garantir que haja desaceleração no ritmo de crescimento", diz Edward Amadeo, sócio da Tendências Consultoria Integrada. "O que se espera é que a economia cresça menos que os 5,2% do ano passado, mas todo mundo continua trabalhando com alguma coisa entre 3,5% e 4%." Ele ressalta que o objetivo do Banco Central, ao elevar o juro básico desde setembro, era fazer com que a economia crescesse a um ritmo um pouco mais lento, para que não houvesse pressões inflacionárias por falta de oferta de produtos. "A oferta de crédito não mostrou desaceleração em nenhum momento, tanto para o consumidor como para as empresas."

Na Scania, fabricante de caminhões e ônibus, a previsão de vendas no trimestre para o mercado doméstico sinaliza um crescimento de 10% sobre 2004. Apesar disso, a carteira de encomendas da montadora é menor este ano, porque em 2004 houve uma antecipação de pedidos por parte de transportadores ligados ao agronegócio. Em dezembro de 2003, a montadora tinha encomendas para 180 dias de produção. Em dezembro, esse número caiu para 120 dias.

"Nesse período, houve uma mudança importante no perfil do mercado", observa o gerente nacional de Vendas de Caminhões, Roberto Leoncini. "O agronegócio diminuiu seu ímpeto, em razão da queda nas cotações das principais commodities. Por sua vez, os transportadores de carga industrial, que no ano passado não reagiram durante todo o primeiro semestre, agora começaram a se movimentar e a apresentar pedidos."

A Calçados Agabê, com unidades em Franca (SP) e no interior do Ceará, trabalha a plena carga para cumprir os prazos de entregas de contratos de exportação fechados no ano passado. No mercado doméstico, as vendas de janeiro praticamente dobraram em relação ao mesmo mês de 2004, e chegaram a um empate em fevereiro. "Para o trimestre, apostamos num crescimento de 30%", diz Hugo Miguel Betarello, presidente da Agabê. Ele lembrou que o mercado interno recuou 17% ao longo do ano passado, enquanto as exportações cresceram 12%.

Mas o comportamento das vendas externas, que respondem por 80% do faturamento da empresa, ainda é incerto. É que a Agabê decidiu reajustar os preços entre 8% e 15%, para compensar a desvalorização do dólar frente ao real, e ainda não obteve resposta de importadores americanos e europeus. O resultado será conhecido em abril, quando começam a chegar as encomendas da nova linha outono-inverno.