Título: Diadema torna-se pólo da beleza
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2005, Economia, p. B9

Cidade conhecida por abrigar indústrias metalúrgicas tem hoje a maior concentração de fabricantes de cosméticos do País Na região em que predomina o setor metalúrgico, com grandes fabricantes de automóveis e seus agregados, um novo pólo começa a se destacar. Em Diadema, a mais nova das quatro principais cidades do ABC paulista, empresas de cosméticos proliferam no rastro do boom verificado na indústria da beleza, que só no ano passado cresceu 25,5%. O Pólo de Cosméticos de Diadema reúne 110 empresas, a maior concentração brasileira de fabricantes. No País, há cerca de 1,3 mil indústrias, mas a informalidade no ramo é elevada. Além de atrair empresas, o pólo desenvolveu projetos para baratear o custo da produção local, como a compra conjunta de matérias-primas e incentivo às exportações.

Fruto de uma parceria entre Prefeitura, empresas e entidades de classe, o pólo inaugura neste ano um centro tecnológico com laboratórios que permitirão o desenvolvimento de produtos e matérias-primas. Hoje, as empresas de pequeno e médio porte têm de recorrer a terceiros. O projeto deve custar perto de US$ 1 milhão. Parte será financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O setor químico, que agrega a área de cosméticos, é o segundo maior empregador da cidade, atrás do metalúrgico. As empresas do pólo têm 8,6 mil trabalhadores diretos e a participação na economia local é crescente. "Há três anos, a indústria de cosméticos respondia por 1,5% da arrecadação municipal. Hoje, participa com 4,5%", diz a empresária e secretária de Desenvolvimento Econômico e Urbano, Sandra Papaiz. A projeção é de chegar a 6% da arrecadação no próximo ano.

O objetivo do pólo é capacitar empresas e garantir competitividade dos produtos, inclusive no mercado externo. Desde o ano passado, a Prefeitura patrocina a participação de grupos de fabricantes em feiras internacionais, e muitas delas já fecharam contratos.

Não são oferecidos incentivos fiscais exclusivos para empresas do pólo. "Fizemos um rearranjo produtivo e promovemos atividades que possibilitaram maior competitividade das empresas", diz o consultor da Secretaria de Desenvolvimento, Ricardo Fioravante. Só em compras conjuntas, a economia é de 17% a 42%, se comparada aos custos de ações isoladas.

Várias empresas já estavam em Diadema antes da criação do pólo, como Davene, Coper/Karina, Pierre Alexander e Valmari. Mas outras chegaram recentemente. A Fenícia, por exemplo, iniciou operações há seis meses, na área de produtos capilares. A empresa foi criada por Hamilton dos Santos, engenheiro químico que há 17 anos edita uma publicação para a indústria química, e um sócio. Eles escolheram Diadema por causa da concentração de fornecedores, mão-de-obra preparada e desburocratização no processo de abertura da empresa.

A fábrica, atualmente com 12 funcionários, produz cerca de 30 mil unidades ao mês de 36 itens da marca Fenícia. A distribuição para atacadistas e lojistas é feita por representantes em vários Estados. "Entrar em supermercados é ilusão, pois as exigências são difíceis de serem atendidas por uma empresa de pequeno porte", diz Santos, que prepara três lançamentos para os próximos meses.

Uma grande fabricante de cosméticos deve se instalar na cidade em breve, mas Sandra ainda guarda segredo. Para garantir a mão-de-obra para as empresas, a Prefeitura, em conjunto com entidades civis, mantém um centro profissionalizante. No ano passado, foram formados 1,2 mil alunos.

VIOLÊNCIA

A idéia do pólo nasceu há 4 anos, de discussões entre poder público e iniciativa privada para mudar a imagem de Diadema. Por vários anos, a cidade esteve no topo do ranking das mais violentas do Estado. Em 1997, tornou-se conhecida após escândalo envolvendo policiais na morte e espancamento de pessoas na Favela Naval.

O apoio ao desenvolvimento industrial em diferentes segmentos, que gerou empregos e arrecadação, além de políticas sociais eficientes, ajudaram o município a melhorar sua posição nessa triste estatística. No ano passado, ocupou a 18.ª colocação entre as cidades paulistas com maior número de homicídios. "Queremos deixar de ser vistos como a cidade da violência para ser reconhecida como a cidade da beleza", diz o prefeito José de Filippi (PT).

"Antes, quando convidávamos fornecedores para visitar a fábrica, havia muita resistência. A primeira coisa que lembravam era de criminalidade", conta o diretor comercial da Valmari, Silvestre Resende. "Hoje, não há mais esse preconceito." A Valmari foi uma das primeiras do ramo a se instalar na cidade, há 22 anos.

A fabricante de cosméticos de tratamento iniciou atividades em uma área de 1,4 mil m2, e hoje ocupa 3,5 mil m2. Um terreno vizinho acaba de ser adquirido e, em breve, a empresa estará 3,5 vezes maior em relação ao tamanho de quando foi inaugurada.

O grupo emprega 88 funcionários e tem 103 lojas próprias, das quais uma em Portugal e uma na Alemanha. Neste mês, a Valmari inaugura outra na Ilha da Madeira. "Abrimos em média seis lojas por ano", diz Resende. Com a ampliação da fábrica, a empresa terá condições de inaugurar entre oito a dez lojas por ano, pois o tamanho da rede de distribuição acompanha a capacidade produtiva.