Título: Carvão põe siderurgia em alerta
Autor: Beth Moreira
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2005, Economia, p. B12

Reservas mundiais do produto, um dos principais insumos para a produção de aço, estão se esgotando Se, por um lado, o setor siderúrgico sofre com a alta pressão dos preços do minério de ferro e, agora, com a redução a zero da tarifa de importação do aço, por outro, tem o alento de saber que as mineradoras estão investindo pesado para aumentar a produção e equilibrar a atualmente complicada relação entre oferta e demanda. O mesmo não acontece no que diz respeito ao carvão metalúrgico ou carvão coqueificável, outro importante insumo das siderúrgicas. Em 2004, a importação brasileira de carvão somou 16,5 milhões de toneladas - volume que inclui tanto o carvão coqueificável quanto o carvão para injeção em altos-fornos, além do antracito, utilizado como combustível sólido para sinterização. Em 2005, a perspectiva é de que o volume se mantenha no mesmo patamar. Porém, com os projetos de novas siderúrgicas em estudo, além de expansões de capacidade previstas, esse número pode saltar para 23 milhões de toneladas até 2009.

O aumento significativo do consumo de carvão pelas siderúrgicas brasileiras e internacionais pode significar um problema no futuro, quando se espera uma redução da produção mundial do insumo, por conta da exaustão das reservas que atualmente são produtivas. A produção mundial hoje gira em torno de 2 bilhões de toneladas de carvão metalúrgico, sendo a China o maior produtor, com um volume em torno de 1,1 bilhão de toneladas por ano. A produção chinesa, no entanto, é integralmente direcionada para o mercado doméstico. A Austrália, segundo maior produtor, com 400 milhões de toneladas, é o maior exportador e também um dos principais fornecedores das siderúrgicas brasileiras. A outra parte divide-se principalmente entre Rússia, Canadá e EUA.

Segundo o diretor de energia da trading Comexport, Lúcio Teixeira Coelho - um dos maiores especialistas brasileiros em carvão -, a previsão é que os preços subam significativamente nos próximos anos, seguindo a escassez do produto. "A única alternativa será a Rússia, que atualmente tem a segunda maior reserva de carvão mineral do mundo, mas praticamente não atua no comércio internacional do insumo", diz.

Por conta do desempenho crescente do setor siderúrgico, tanto no que diz respeito à produção quanto às vendas, os produtores de carvão anunciaram um aumento de 120% para o insumo, que agora está custando em torno de US$ 125 a tonelada. Considerando os novos preços, o carvão já representa entre 40% e 50% do custo de produção de aço líquido. Além disso, os preços dos fretes também estão pressionados, em torno de US$ 11 a tonelada (FOB) para o produto vendido pelos EUA (ante os US$ 4 do ano passado) e US$ 21 a tonelada (FOB) para o produto que vem da Austrália (ante US$ 4,50 em 2004).

Disposta a competir com gigantes como BHP Billiton (140 milhões de toneladas/ano), Glencore (100 milhões) e Anglo American (80 milhões), a Vale do Rio Doce anunciou recentemente sua estratégia de crescer também na área de carvão. A meta da mineradora é ambiciosa: tornar-se uma das cinco maiores empresas de carvão do mundo nos próximos dez anos. Em 2004, a empresa realizou duas associações, onde terá participação minoritária, com empresas chinesas - Yankuang Yongcheng e Baosteel - para o desenvolvimento de negócios de carvão e coque na China.

A Vale anunciou ainda que ganhou a concessão para exploração da jazida de carvão de Moatize, em Moçambique, que tem um depósito de classe mundial estimado em 2,4 bilhões de toneladas. O estudo de viabilidade tinha início previsto para janeiro de 2005 e duração estimada de 24 meses. O investimento total previsto é de cerca de US$ 1 bilhão, incluindo o pagamento pela concessão, o desenvolvimento da mina, a construção de um terminal para carregamento de navios e investimentos na área social.