Título: Aeroportos, mais um desafio do setor aéreo
Autor: Téo Takar
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2005, Economia, p. B12

Os problemas do setor aéreo brasileiro não estão restritos às empresas. Os principais aeroportos do País operam acima da capacidade projetada, causando desconforto aos passageiros e restringindo o potencial de crescimento das empresas nos mercados de maior demanda. Nos últimos meses, empresários, especialistas de aviação e analistas têm debatido muito sobre a crise financeira que tirou a Vasp do ar e sobre uma solução para evitar que a Varig siga o mesmo caminho. Porém, uma outra questão fundamental - as condições dos aeroportos brasileiros para comportar o aumento do número de passageiros e do tráfego aéreo - vem sendo deixada de lado. A limitação dos principais terminais tende a prejudicar principalmente empresas como Gol e TAM, que apresentam potencial de crescimento. É consenso no setor que a demanda de passageiros cresce o dobro do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2004, o mercado avançou 11,9%, para uma alta do PIB de 5,2%. Para 2005, as projeções apontam um PIB de 4%. Dessa forma, o volume de passageiros deve crescer 8%. Mas será que há espaço nos aeroportos para comportar o acréscimo? O aeroporto mais movimentado do País, o de Congonhas, em São Paulo, opera no limite desde 2000, quando o Departamento de Aviação Civil (DAC) decidiu adotar, pela primeira vez no Brasil, o sistema de slots para garantir a segurança dos vôos. Esse sistema consiste em autorizações de pousos e decolagens em horários fixos dentro de um período de pico de tráfego, restringindo o espaço aéreo à capacidade que o aeroporto possui para operar, com segurança, o maior número de vôos possível. O horário de pico em Congonhas corresponde ao início da manhã e ao final da tarde dos dias úteis.

Construído para atender 6 milhões de passageiros ao ano, Congonhas recebe hoje mais de 12 milhões, segundo estimativas da Infraero, a empresa estatal responsável pela operação de 66 aeroportos brasileiros. A diretora de engenharia da Infraero, Eleuza Lores, admite que as recentes obras no terminal visam apenas a adaptar o local ao fluxo atual de usuários, de forma a lhes proporcionar maior conforto.

Para o coordenador de Segurança de Vôo do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), Ronaldo Jenkins, "a Infraero está recuperando o tempo perdido". Segundo ele, não há como ampliar o fluxo de passageiros porque o espaço aéreo em Congonhas está saturado, assim como o pátio. Além disso, as duas pistas de pouso são curtas, o que limita o tamanho e peso de carga dos aviões, e são próximas, o que impede pousos ou decolagens simultâneas. "Não há possibilidade de incremento da capacidade em termos aeronáuticos", diz Jenkins.

Enquanto as soluções para os principais gargalos aéreos não saem do papel, as empresas lamentam a redução de seu potencial de expansão. Em recente teleconferência com investidores estrangeiros, o vice-presidente financeiro da Gol, Richard Lark, disse que as empresas ainda têm slots disponíveis, fora dos horários de pico, para ocupar nos cinco principais aeroportos (Congonhas, Guarulhos, Brasília, Santos Dumont e Pampulha), mas a infra-estrutura atual de recebimento e escoamento dos passageiros nos terminais dos aeroportos acaba restringindo o crescimento.

A Infraero rebate as críticas e diz que está investindo pesado na ampliação dos terminais com base nos seus planos de desenvolvimento por aeroporto. "Dificilmente vamos solucionar o problema, pois trabalhamos em cima das previsões de demanda", diz Eleuza, referindo-se particularmente ao caso de Congonhas.

A Infraero entregou em agosto passado a primeira fase da ampliação do terminal de Congonhas, com novas salas de embarque e oito pontes (ou "fingers"), reduzindo o trânsito de pedestres no pátio e aumentando a segurança e rapidez das operações. Na segunda fase, que deve ser entregue este ano, serão mais quatro pontes e novas salas de desembarque.

Segundo Eleuza, a Infraero estuda transferir, a médio prazo, os vôos de média e longa distância que pousam em Congonhas para o aeroporto de Guarulhos, distante 30 quilômetros do centro da capital paulista. Congonhas concentraria apenas vôos de curta distância, como a ponte aérea para o Santos Dumont, no Rio. Aliás, medida semelhante foi adotada nesse aeroporto em 2004, transferindo boa parte do tráfego para o Galeão. O Santos Dumont agora opera com folga. Mesmo assim, a Infraero inicia este ano uma série de ampliações no local para melhorar a recepção dos usuários, já de olho nos Jogos Panamericanos de 2007, quando o tráfego deve aumentar bastante.