Título: Para Bastos, é preciso chegar aos mandantes
Autor: Vannildo Mendes e Carlos Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2005, Nacional, p. A4

A Polícia Federal suspeita da ação de intermediários entre os pistoleiros que executaram a freira Dorothy Stang e os mandantes do crime. A informação foi divulgada ontem pelo ministro Marcio Thomaz Bastos, da Justiça. "Os assassinos já foram identificados, já existe mandado de prisão contra eles e o caso está praticamente esclarecido", anunciou o ministro em Mogi das Cruzes (SP), onde entregou 186 viaturas para a PF. Bastos referia-se aos suspeitos Rayfran das Neves Sales, Uilquelano de Souza Pinto, conhecido por Eduardo, e ao fazendeiro Vitalmiro Gonçalves de Moura, o Bida. A Justiça decretou a prisão preventiva dos três. "Eles se aproveitam da extensão daquele território para se ocultarem da ação das autoridades, a questão é de tempo para a localização e prisão e a partir daí verificar e descobrir os motivos da morte da irmã", declarou o diretor-geral da PF, Paulo Fernando Lacerda.

"Não adianta prender só os pistoleiros que receberam o dinheiro para matar, é preciso chegar àqueles que mandaram matar e aos intermediários", disse o ministro. "Não podemos ficar só nos pistoleiros, só no articulador, nem só no contratante. É para chegar ao beneficiário final, aquele que deu a primeira ordem, a ordem para a morte da irmã Dorothy."

O ministro disse que "não tem idéia" se os assassinos já teriam saído do País. "Sei que já existem dois executores identificados e um articulador que a gente não sabe se é o mandante final", anotou. "Posso afirmar que todos serão duramente punidos."

"Pretendemos percorrer toda a cadeia causal, para chegar ao fim dessa cadeia de impunidade", disse. "As pessoas precisam saber que no Brasil se vive dentro de um estado de direito."

Bastos disse não acreditar que o Brasil possa ter novos casos como o da missionária, a quem chamou de "mártir". "O País está absolutamente sob controle", garantiu. "Nós recebemos um país em que a presença do estado, em certas regiões, era inexistente, daí esse fato de haver terra sem lei, convívio não civilizado."

SEM MÁGICA

O ministro disse que a presença do Estado na terra sem lei está sendo organizada de maneira metódica e planejada "a fim de acabar com esses bolsões de violência que existem há dezenas, senão a centenas de anos no Brasil". Mas ele advertiu: "Isso não vai acabar num passe de mágica, a violência nas áreas rurais não vai ser resolvida com bilhetes a Papai Noel, com proclamações, com mudanças de legislação demagógicas que não levam a nada ".

Para o ministro, a violência só vai acabar "quando tivermos as instituições construídas, a PF combatendo, o Exército firme e a disciplina da ocupação da terra no Brasil, principalmente na Amazônia." Destacou que "essas regiões ficaram muito tempo à margem da lei". "Sabemos que do lado dos fazendeiros não existem só bandidos, existe gente bem intencionada", ressalvou. "As regras valem para todos. É fundamental numa democracia, numa república."