Título: Ex-traficante, G. quer ter lotação. "Dá dinheiro, né?"
Autor: Luciana Garbin
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2005, Cidades / Metrópole, p. C8

G. tem 14 anos, mas aparenta menos. Foi parar na Febem por causa de um assalto a uma loja de celulares na zona leste. Aproveitou a madrugada, subiu pelos fundos, tirou umas telhas, entrou pelo forro. Quando pôs os pés no chão, o alarme disparou. Após sete minutos, veio a polícia. Ainda tentou escapar pelo telhado, mas uma vizinha o denunciou. Estava cercado. Detido, foi levado para a UAI. Ficou um dia assistindo aos mesmos vídeos - Cidade de Deus, Velozes e Furiosos e Todo Poderoso. Depois, passou três meses na UIP do Brás e daí seguiu para a UI-7. Sua vida infracional começou, porém, no tráfico de drogas de uma favela no Sapopemba, onde morava. Teve de batalhar para conseguir lugar. "Não tinha nem vaga, um monte de menor esperando." Com tanta concorrência, os meninos traficantes eram obrigados a se revezar para vender maconha, cocaína e crack.

Cada um podia ficar dez dias traficando. Depois, tinha de dar lugar aos outros e só chegava novamente sua vez em dois ou três meses. Em cada período no tráfico, G. conseguia cerca de R$ 700,00. Guardava parte do dinheiro e comprava roupa com o resto. Pegava também um pouco de maconha e depois descontavam de seu salário. Acabou tendo de passar seis meses numa clínica de desintoxicação em Cosmópolis.

"Os moleques com menos de 18 anos trabalhavam de dia. E, das 7 da noite às 7 da manhã, era o turno dos maiores." Segundo G., maconha era a droga que ele mais vendia, mas dava menos lucro. Dos R$ 10,00 do preço de cada saquinho de cocaína, R$ 5,00 ficavam com quem vende; o mesmo com a pedra de crack. Já a paranga (porção) de maconha custava R$ 5,00 e lhe rendia R$ 1,00. Cada saco vinha com 30 parangas. "Em 20, 30 minutos estava tudo vendido", conta G. E um detalhe: depois das 23 horas, os traficantes só podiam vender cocaína e crack.

O maior cuidado de G. tinha de ser com os policiais, principalmente os à paisana. Duas vezes, ele foi pêgo pela polícia, mas acabou liberado depois que o gerente da boca (ponto de tráfico) pagou aos policiais - R$ 200,00 cada vez. Cansado de esperar por sua vez no tráfico, G. foi roubar a loja de celulares.

Seu sonho? Ser motorista de lotação. "Dá dinheiro prá caramba, né?"