Título: Credor de Severino teve de cobrar na Justiça
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2004, Nacional, p. A12

Novo presidente da Câmara coleciona casos de cheques sem fundos e de dificuldades de honrar dívidas.

O novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, precisou ser acionado na Justiça para pagar R$ 87.757,46, referentes à compra de camisetas de campanha e faixas em 2001. O valor, segundo coordenadores de campanha, é suficiente para a confecção de 40 mil camisetas. Um acordo, realizado na 6.ª Vara Cível do Recife, em 16 de agosto do ano passado, reduziu o débito para R$ 72 mil a serem pagos em 12 prestações mensais de R$ 6 mil. A primeira venceu em 15 de setembro passado e a última tem data de pagamento para 25 de agosto deste ano. A Cia. Têxtil Pé de Serra, com sede em Araripina (sertão), pertencente ao Grupo Valdeir Batista (Valdeir Batista foi deputado estadual pelo PSB), alegou ter recebido, em garantia do pagamento dos "produtos para a campanha", seis cheques do deputado, do Banco do Brasil, agência Câmara dos Deputados. Os cheques nunca foram apresentados, mas a empresa alega que não havia provisão de fundos. O débito foi contraído em nome da empresa Cotefac Têxtil Fabril e Comércio.

A empresa entrou com ação no dia 19 de maio de 2003. Depois de tentativas de citação pelo oficial de justiça, Severino negou o débito. Por seu advogado, disse estranhar o fato de seus cheques estarem em poder da empresa.

Duas audiências foram adiadas e na terceira vez, no dia 16 de agosto do ano passado, foi realizado o acordo e o processo encerrado. A Cia. Têxtil Pé de Serra não comenta o assunto, nem informa se os cheques de R$ 6 mil estão sendo pagos. Se isso não ocorrer e a empresa assim decidir, pode abrir novo processo, dessa vez por descumprimento de acordo judicial, realizado pelo juiz substituto da 6.ª Vara Cível, Paulo Henrique Martins Machado.

Mesma sorte não tiveram outros credores do deputado em sua terra natal, João Alfredo, no agreste. O comerciante Manoel Severino de Moura, 74 anos, hoje aposentado, guarda há quase três anos um cheque sem fundos assinado por Severino no valor de R$ 15 mil. Datado de 31 de maio de 2002, o cheque do Banco do Brasil, agência Câmara dos Deputados, foi repassado ao comerciante por um fornecedor, Edval Gomes do Rêgo. O cheque voltou nos dias 10 e 12 de junho de 2002.

"Tive de pagar os 15 mil e mais juros de R$ 550,00", contou Moura, que havia recebido dois cheques no valor de R$ 15 mil como garantia de pagamento de um empréstimo feito ao deputado a pedido do seu filho, então prefeito, Cavalcanti Júnior (morto em um acidente). O outro cheque foi devolvido ao outro filho do deputado, José Maurício Cavalcanti, que fez a negociação, depois do pagamento de R$ 17 mil em parcelas.