Título: Laudos reforçam suspeitas contra empresário na morte de Celso Daniel
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2005, Nacional, p. A12

Para promotores, os documentos "desmentem taxativamente" a versão de Sérgio Gomes sobre o seqüestro do prefeito O Ministério Público Estadual divulgou ontem dois laudos periciais que podem reforçar as suspeitas sobre o empresário Sérgio Gomes da Silva, apontado como mandante do seqüestro e assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT). Para os promotores de Justiça que investigam o caso, os documentos "desmentem taxativamente" a versão de Gomes sobre o que ocorreu na noite de 18 de janeiro de 2002, quando um grupo armado arrancou Celso Daniel da Mitsubishi Pajero que o empresário dirigia. Os laudos foram produzidos por ordem do juiz Luís Fernando Migliori Prestes, do Fórum de Itapecerica da Serra, responsável pela condução do processo contra Gomes e outros sete acusados. Interrogado, o empresário alegou que a Pajero travou e a porta automática abriu depois que os bandidos bateram na traseira e fizeram disparos. Ele alegou ter esbarrado acidentalmente no câmbio e, por isso, o "carro ficou girando em falso". Isso o teria impedido de tentar a fuga.

No ofício enviado à superintendência da Polícia Técnico-Científica, o juiz pede aos peritos que informem "sobre a veracidade das alegações prestadas pelo co-réu Sérgio Gomes da Silva, de que um toque involuntário na marcha que aciona a tração 4 x 4 do veículo Pajero faria com que o motor girasse em falso, ou seja, se é possível, se é provável ou se é impossível, justificando a resposta".

VÁRIOS PASSOS

Os peritos Valdir Florenzo e Afonso Augusto Henriques concluíram que "para deixar o câmbio sem tração vários passos devem ser realizados, descartando-se a hipótese de se tratar de uma manobra acidental, mesmo porque para chegar a esse estágio o veículo tem que estar parado e não em movimento".

O outro laudo é subscrito pelo diretor de pós-vendas da MMC Automotores do Brasil Ltda., José Roberto do Rego. Ele dividiu a resposta em três hipóteses.

A hipótese 1, sobre toque involuntário na alavanca de transmissão automática. "Hipótese possível, mas descartada, pois é incompatível com o depoimento que é a única versão disponível", assinala Roberto do Rego.

Hipótese 2, sobre toque involuntário na alavanca da caixa de transferência. "Hipótese impossível, pois envolve seqüência de 4 diferentes movimentos involuntários, sendo dois em cada alavanca", afirma.

Hipótese 3, sobre acionamento voluntário do freio normal. "Hipótese possível, mas como a própria descrição afirma se trata de ato voluntário efetuado pelo condutor do veículo."

O promotor Amaro José Thomé Filho, que integra equipe do MP para o caso Celso Daniel, leu os laudos e concluiu: "São decisivos contra o Sombra (como é conhecido Sérgio Gomes). Antes dos laudos, tínhamos a certeza de que as afirmações dele não faziam sentido. Agora, temos a prova de que ele mentiu."

PROPINAS

Os laudos são ilustrados com fotos da Pajero. "Essas fotos mostram a realidade do que aconteceu naquela noite", sustenta o promotor Amaro. "O perito da Mitsubishi mostra que até seria possível o toque involuntário, mas para ele deixar o carro travado teria que cometer 4 atos voluntários, dois em cada câmbio."

Naquela noite, Celso Daniel foi retirado da Pajero e levado pelo bando armado. Os peritos contaram oito tiros na perua importada. O corpo do prefeito foi encontrado dois dias depois, com sete perfurações de uma pistola calibre 9 milímetros.

A polícia concluiu que Celso Daniel foi vítima de "crime comum". A família do prefeito não aceita essa versão. O irmão mais velho, João Francisco Daniel, revelou ao Ministério Público que parte do dinheiro arrecadado em suposto esquema de propinas na prefeitura de Santo André seria destinado ao financiamento de campanhas do PT.

Os promotores acreditam que Celso Daniel foi executado depois que decidiu acabar o esquema. Gomes é apontado como um dos envolvidos em desvios de verbas públicas. A Justiça abriu processo contra ele e outros empresários por concussão (extorsão praticada por servidor público) e quadrilha.