Título: Juiz acata denúncia no caso Dorothy
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2005, Nacional, p. A13

O fazendeiro Bida, suposto mandante do crime, será processado em ação separada ALTAMIRA - A Justiça do Pará decidiu não esperar a polícia cumprir a promessa de prender "o mais rápido possível" o suposto mandante da morte da missionária Dorothy Stang para iniciar o julgamento dos três presos acusados pelo crime. O juiz de Pacajá, Lucas do Carmo de Jesus, desmembrou o processo e julgará separadamente o fazendeiro Vitalmiro Matos de Moura, o Bida, ainda foragido; o capataz Amair Feijoli da Cunha, o Tato, suposto intermediário; e os executores confessos Rayfran Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Batista, o Eduardo, que permanecem detidos no Presídio de Americano, a 70 quilômetros de Belém. Com o desmembramento, o processo de Bida permanecerá congelado até sua eventual prisão. Já o processo que envolve os outros três terá prosseguimento. Na decisão de se desmembrar o caso também ficou estabelecida a suspensão do prazo de prescrição do processo contra o fazendeiro.

Ao acatar a denúncia contra os quatro acusados por homicídio duplamente qualificado, a Justiça aceitou as teses apresentadas pelo Ministério Público de impossibilidade de defesa da vítima e promessa de recompensa. O promotor público Lauro Francisco da Silva Júnior, que apresentou a denúncia, acredita que Tato, Rayfran e Clodoaldo podem ir a júri popular, na comarca de Pacajá, no final deste semestre ou no início do segundo.

O juiz vai interrogar agora os três acusados, ouvir testemunhas e, no caso de Bida, publicar um edital, determinando a convocação dele. Os quatro acusados poderão ser condenados a penas que variam de 12 a 30 anos de prisão. Rayfran e Clodoaldo contaram à polícia que Tato intermediou o crime, por estar interessado na posse da área onde Dorothy Stang implantava um assentamento.

Desde o assassinato, no dia 12, entidades voltadas à defesa dos direitos humanos pedem que o caso seja julgado pela Justiça Federal. O promotor Lauro Francisco da Silva Júnior não concorda com a transferência. Segundo ele, a federalização do caso não vai interromper o processo. "Não vejo elementos suficientes para que ocorra a mudança", disse. "A polícia trabalhou bem e a Justiça está atuando."

Ontem, a comissão de direitos humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Pará pediu proteção para os três acusados, que estariam recebendo ameaças de morte de detentos da Penitenciária de Americano. "Se isso vier a ocorrer, os três seriam vítimas de queima de arquivo", disse o presidente regional da OAB, Ophir Cavalcante Júnior. A direção do sistema penal informou que os três estão em um bloco isolado dos demais presos e não mantém nenhum tipo de contato com eles.