Título: Entre a moça e seus bens, uma parede
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2005, Metrópole, p. C3

Verônica saiu cedo e, quando voltou, já havia cimento fechando a entrada Fazia sete meses que Verônica Raquel Marinho, de 33 anos, morava na Hospedaria São José. Ocupava um quarto no 1.º andar do prédio de paredes verdes da Rua General Couto de Magalhães. Pagava diária de R$ 25,00. Com o marido preso e três filhos entregues à família em Minas, disse não ter outra opção, além de se prostituir, para mandar dinheiro às crianças. Verônica acordou cedo ontem e viu policiais chegarem. Saiu do hotel e ficou por ali. Deixou no quarto a bolsa com o pouco que tinha: algumas roupas e o boletim de ocorrência do furto de seus documentos. Tudo levava a crer que se tratava de uma blitz como as demais: quando a polícia saísse, tudo voltaria ao normal.

Mas desta vez foi diferente. Eram 10 horas quando os homens da Subprefeitura da Sé começaram a fechar com blocos de tijolo a única porta da hospedaria. Meia hora depois, Verônica reapareceu. Era tarde: os homens acabavam de rebocar a parede. "Tudo o que tenho está lá."

O drama mobilizou polícia e Prefeitura. Esta ofereceu à moça uma vaga num albergue, além de ajuda para retirar novos documentos. A situação só foi resolvida às 11h15, quando um investigador apanhou uma escada com funcionários da Eletropaulo e colocou-a na sacada do 1.º andar do prédio. Ele pulou a janela, apanhou a bolsa de Verônica e jogou-a dali para a moça. Ela pegou seus pertences e desapareceu correndo, tão repentinamente quanto chegou.