Título: IPCA reforça aposta de alta do juro
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2005, Economia, p. B3

Reajuste nas mensalidades escolares sustentou taxa de 0,59% em fevereiro;analistas prevêem aumento de 0,5 ponto na Selic RIO - Os reajustes das mensalidades escolares impediram a queda da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em fevereiro ante janeiro. A taxa ficou em 0,59%, praticamente igual aos 0,58% de janeiro, mas quase a metade desse total, ou 0,25 ponto porcentual, são por conta do grupo educação. Sem essa contribuição, o IPCA do mês não ultrapassaria 0,34%. Mas itens importantes nas despesas das famílias mostraram deflação. A taxa mensal veio dentro das estimativas do mercado financeiro (0,54% a 0,67%) e era a informação que faltava para a definição das projeções sobre a decisão a ser tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em relação à taxa básica de juros (Selic) na reunião da próxima semana. O IPCA é usado como referência para a meta de inflação do governo (5,1% em 2005) e acumulou no primeiro bimestre do ano alta de 1,17% e em 12 meses, de 7,39%.

A maior parte das apostas na Selic consolidaram-se em torno de uma elevação de 0,50 ponto porcentual (de atuais 18,75% para 19,25%), mas boa parte dos analistas de mercado também aposta em um aumento mais brando, para 19%. Pesquisa da Agência Estado com 46 instituições financeiras revela que 28 delas aguardam mais um aumento da Selic de 0,50 ponto porcentual; 16 esperam um incremento de 0,25 ponto porcentual e duas apostam na estabilidade.

Enquanto os palpites sobre o futuro dos juros ganharam força ontem, a gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, destacava as "quedas significativas" apuradas no IPCA de fevereiro.

Ela sublinhou que, a despeito das taxas similares, o comportamento da inflação em fevereiro foi bem diferente do apresentado em janeiro. Eulina explicou que, enquanto em janeiro vários itens mostravam tendência de alta de preços, em fevereiro a inflação esteve praticamente concentrada no grupo educação, que contribuiu sozinho com 42% da taxa.

"Se não fossem os colégios, o índice estaria mostrando tendência clara de queda. Vários itens alimentícios mostraram queda, assim como o vestuário e combustíveis e em geral a taxa de inflação dos preços livres mostrou quedas significativas, disse."

Houve deflação em produtos com forte peso no IPCA, como álcool (-1,44%), gás de cozinha (-1,06%) e gasolina (-0,79%), além das tarifas de ônibus urbanos (-0,37%), que caíram por causa de promoção aos domingos em Curitiba. Os alimentos, ainda que tenham registrado inflação de 0,49%, desaceleraram em relação a janeiro (0,78%), com a contribuição de produtos como açúcar refinado (-3,06%), arroz (-2,68%) e carnes (-1,45%).

Sobre as quedas em alguns itens do grupo alimentos, Eulina disse que as deflações são efeitos das recentes quedas na cotação do dólar e, ainda, da comercialização da safra agrícola no ano passado.Apesar disso, o excesso de calor ou falta de chuva provocou aumentos em produtos como tomate (19,77%), hortaliças (15,99%) e batata inglesa (15,56%).

O alívio com a concentração de quedas de preços na inflação de fevereiro pode ser passageiro, já que, como admite Eulina, já há importantes pressões conhecidas para a taxa de março. As principais são os ônibus urbanos de São Paulo, com reajuste de 17,6% a partir de 5 de março e o aumento na taxa de água e esgoto em Porto Alegre, Belo Horizonte, Brasília e Goiânia. Haverá também "algum resíduo" dos reajustes das mensalidades escolares.

Os economistas da GRC Visão chamam atenção para os efeitos do reajuste de ônibus em São Paulo para a inflação de março que, segundo eles, poderá chegar a 0,70%. Em abril e maio, avaliam, a tendência é de novo recuo na taxa.