Título: Preço de manufaturados tem maior alta em 9 anos
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2005, Economia, p. B3

Exportadores negociam para compensar o câmbio fraco RIO - Os produtos manufaturados exportados pelo Brasil tiveram em 2004 o maior ganho de preços dos últimos nove anos. O aumento em dólar foi de 6% e representou injeção adicional de US$ 2,3 bilhões nas vendas desses produtos. A tendência ficou mais forte em janeiro, com alta de 12%. A aceleração de preços ajuda a compensar a perda da rentabilidade da exportação com o câmbio mais fraco. Nesta queda-de-braço, as empresas mais inovadoras e com produtos diferenciados conseguem melhor chance de negociação. Levantamento da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex), feito a pedido do Estado, mostra que o último aumento acima do patamar de 2004 foi de 15,2%, em 1995, quando o real estava muito valorizado. Nos anos de forte desvalorização cambial, como 1999 e 2002, houve movimento inverso: quedas nos preços dos manufaturados, de 10,7% e 4,6%, respectivamente. Quando o real está mais desvalorizado, a margem das exportações fica maior - o oposto do que ocorre atualmente.

José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica e sócio da MB Associados, diz que exportadores, principalmente com maior tradição de comércio exterior, estão conseguindo renegociar preços em dólar em até 15%, em alguns casos. Segundo ele, há empresas negociando com parceiros comerciais uma forma de recompor os custos crescentes e o câmbio em baixa. Quando o câmbio chegou perto dos R$ 4, no segundo semestre de 2002, eram os importadores que pediam desconto.

Agora, o quadro é outro. "As empresas que têm condições de ajustar preços estão fazendo isso", confirma Fernando Ribeiro, economista da Funcex. Ele destaca que os ganhos nos preços dos manufaturados não são generalizados: são mais puxados pelas empresas que atuam com produtos mais diferenciados. O aquecimento do comércio internacional também favorece os repasses de preços.

NEGOCIANDO

Conhecida como uma das empresas mais internacionalizadas do país, a Weg, baseada em Jaraguá do Sul (SC), começou a negociar aumentos em dezembro e prosseguiu em janeiro e fevereiro. "O aumento já realizamos é para tentar recompor a rentabilidade", disse o presidente da Weg, Décio da Silva. "O problema não é só o dólar. Junto, houve aumento generalizado de matérias-primas e commodities, como cobre e aço", explicou o executivo.

Com este cenário, a empresa busca também aumento de produtividade e corte de despesas, e aposta em itens de maior valor agregado. Parte da rentabilidade com as exportações se mantém porque um terço das exportações vai para a Europa.

No setor calçadista, o dólar desvalorizado também tem levado as empresas a tentar reajustar os preços entre 10% e 15%, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). "Há um movimento na indústria e a gente está analisando que espaço terá em preço. Realmente, a rentabilidade caiu", diz a gerente de relações com investidores da Grendene, Doris Wilhelm.