Título: Algodão: 'Brasil deve negociar'
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2005, Economia, p. B4

Empresários americanos acham que é a melhor opção para o País GENEBRA - Representantes de um grupo formado pelas maiores companhias americanas, entre elas a Boeing, General Motors, PepsiCo e Microsoft, recomendam que o governo brasileiro opte por negociar uma saída pacífica para a disputa com os Estados Unidos sobre o algodão. Há cerca de uma semana, o Brasil ganhou na Organização Mundial do Comércio (OMC) um contencioso contra os subsídios americanos ao algodão. Para o Conselho Nacional de Comércio Exterior, entidade americana que reúne os maiores conglomerados do país, "será politicamente impossível" convencer o congresso dos EUA a revogar as leis de apoio ao setor de forma unilateral.

"A melhor solução para o Brasil será uma negociação sobre a questão do algodão", afirma Mary Irace, vice-presidente do grupo com sede em Washington. A Casa Branca já havia indicado que a implementação das recomendações da OMC seria difícil.

Os árbitros internacionais condenaram os subsídios americanos ao algodão alegando que afetava de forma negativa o Brasil. O caso, considerado histórico, foi comemorado não só em Brasília, mas em vários países africanos produtores de algodão, que também sofrem com os subsídios americanos.

"Esse é um tema sensível entre os deputados", alerta Mary Irace, que tenta tirar a culpa da administração de George W. Bush pelas dificuldades na implementação da decisão da OMC. Em sua avaliação, o grupo de empresas acredita que o Brasil pode conseguir um resultado mais rápido se incluir o tema na agenda das negociações da rodada Doha da OMC, programadas para serem concluídas no fim de 2006.

O chanceler Celso Amorim já indicou que não aceitará esperar até o final da rodada da OMC para solucionar o caso do algodão, mas afirmou estar disposto a sentar à mesa com os americanos para debater como implementar as decisões dos juízes.

Para analistas em Genebra, existe o grande risco de que se o Brasil deixar o tema para as negociações da rodada de Doha, o resultado seja menos ambicioso que o julgamento dos árbitros internacionais em termos de cortes de subsídios. "Como é que o governo brasileiro vai explicar depois que optou por uma negociação que gerou um resultado inferior ao que o País já havia obtido no tribunal", questiona um analista na OMC.