Título: Fiesp diz que a maioria dos exportadores já tem prejuízo
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2005, Economia e Negócios, p. B4

Segundo Paulo Skaf, presidente da entidade, pouquíssimos empresários estão ganhando dinheiro com o dólar a R$ 2,60.

A maioria dos setores exportadores está operando no vermelho com o dólar cotado a R$ 2,60, afirma Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Espero que o governo abra o olho", diz Skaf. "Todo mundo enxerga que o dólar nessa cotação e os juros altos atrapalham a exportação, menos uma meia dúzia de técnicos que têm poder demais, lá no Banco Central." Segundo Skaf, o câmbio já está nos mesmos níveis do final dos anos 90, quando o Brasil registrava déficits na balança comercial. Muitas empresas exportadoras já puseram o pé no freio. A Paramount Lansul, uma das principais indústrias do setor têxtil brasileiro, adiou um investimento de US$ 10 milhões por causa da valorização do real. A indústria ia implantar mais uma linha de produção de fio acrílico em sua fábrica, mas desistiu. Segundo o presidente da Paramount, Fuad Mattar, o dólar baixo está levando a empresa a perder alguns contratos para empresas da China, Indonésia e Turquia. "Neste ano, a exportação para os Estados Unidos vai diminuir", diz Mattar.

Em 2004, cerca de 40% do faturamento da Paramount, de R$ 420 milhões, veio das exportações. Este ano, segundo Mattar, a exportação deve cair para 32% do faturamento. A empresa também revisou para baixo estimativas de crescimento por causa da alta dos juros, que é também uma das causas da valorização do real. "Depois das últimas elevações de juros, reduzimos a estimativa de crescimento para este anpo de 18% para 5%", disse Mattar.

Segundo Skaf, a Fiesp concluiu um estudo com 25 moedas que mostra a valorização excessiva do real. De acordo com a conclusão do estudo, o dólar deveria estar cotado a R$ 2,90 se tivesse acompanhado sua desvalorização mundial. "A queda do dólar no mundo foi bem menor - o problema aqui é que a altíssima taxa de juros contribuiu."

Skaf citou o caso de um empresário brasileiro que fechou uma venda de R$ 60 mil para o Chile e estava sem dormir há três noites. "Fechei a venda quando o dólar estava a R$ 2,70 e já estava perdendo dinheiro; agora, com o dólar a R$ 2,50, estou desesperado", teria contado o empresário. Segundo ele, se o dólar estivesse a R$ 3, ele estaria comemorando a venda com champanhe.

O presidente da Fiesp também mostrou-se preocupado com o intercâmbio comercial entre Brasil e China. "Com a queda do preço das commodities agrícolas, que exportamos para a China, e o aumento nas importações de manufaturados chineses, por causa do câmbio, vamos terminar 2005 com déficit comercial com a China", previu.

AUTONOMIA

O presidente da Fiesp atacou a proposta de conceder autonomia para o Banco Central. "O presidente da República diz que está chateado com o aumento de juros, o BC aumenta mesmo assim; o vice-presidente diz que está chateado, eles também aumentam, o ministro critica, e é a mesma coisa. Até onde vai chegar essa autonomia?" perguntou. "Mais autonomia que isso nós vamos ter que pedir licença pro Banco Central até pra ir ao cinema."