Título: Indiciado, Dantas nega acusações
Autor: Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2005, Economia, p. B4

Executivo do Opportunity responderá por formação de quadrilha, divulgação de segredo e corrupção ativa no caso Kroll RIO-O banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, foi indiciado ontem pela Polícia Federal por formação de quadrilha, divulgação de segredo e corrupção ativa no inquérito que apura o caso Kroll. Desfecho previsível e semelhante ao da executiva Carla Cico, nomeada por ele para a presidência da Brasil Telecom (BrT) e indiciada segunda-feira pelos mesmos crimes. Dentro de 30 dias, o inquérito policial estará concluído e mais 18 pessoas devem ser indiciadas, incluindo funcionários da Kroll. O depoimento de Dantas na sede da PF no Rio de Janeiro durou quase três horas. Para fugir da imprensa, o banqueiro chegou com duas horas de antecedência e ainda usou uma entrada privativa para funcionários, que fica numa rua paralela à da portaria principal. Na saída, também driblou os repórteres. "Ele não estava disposto a essa exposição. Este é um direito que a Constituição garante", disse o advogado de Dantas, Nélio Machado. Segundo ele, a própria Polícia Federal achou melhor evitar o constrangimento por que passou Carla Cico ao depor em Brasília.

A PF informou que Dantas negou todas as acusações. A expectativa do órgão é concluir até o final da próxima semana o relatório do caso Kroll a ser encaminhado ao Ministério Público. Além de Dantas e Carla, o inquérito indiciou 18 funcionários ou pessoas ligadas à Kroll. Machado aguarda exatamente o relatório policial para traçar a estratégia de defesa de Dantas e Carla.

O advogado voltou a criticar a condução das investigações no caso Kroll. "Há uma inconsistência absoluta em relação à apuração. Não me recordo de uma acusação mais inverossímil em vários anos", reclamou. Os dois executivos são acusados de montar um esquema de espionagem ilegal com a contratação da americana Kroll para investigar executivos da Telecom Italia, inclusive em conversas com integrantes do governo. O grupo italiano é sócio do Opportunity na Brasil Telecom e disputa o controle da operadora com Dantas.

REPERCUSSÕES

A semana tem sido difícil para o executivo, que já foi um dos nomes mais importantes no setor de telecomunicações. Além do indiciamento e da derrota na Anatel, o Citigroup entrou na Corte Distrital de Nova York com nova ação por perdas e danos contra o Opportunity, pedindo indenização de US$ 300 milhões. O Citigroup acusa Dantas de ter praticado violações contratuais.

Até o mês passado, o grupo de Dantas era o gestor do CVC Internacional, fundo que, junto com um grupo de fundações brasileiras, detinha o controle de sete empresas no País, entre elas as operadoras Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazônia Celular. Na ação, o Citi diz que emprestou US$ 22 milhões a Dantas há dois anos para que ele adquirisse a participação da canadense TIW, sócia do CVC na Telemig Celular e Amazônia Celular. O banco esperava receber em troca as ações adquiridas, o que não aconteceu. O Citi calcula ter deixado de ganhar US$ 80 milhões com a operação.

"Nós já estamos sabendo da ação e todas as medidas necessárias vão ser tomadas. Tudo vai ser rebatido em Nova York", afirmou a diretora do Opportunity Maria Amália Cotrim. O advogado Machado acredita que há uma atmosfera desfavorável ao banqueiro. Segundo ele, os oponentes de Dantas aproveitam do caso Kroll para influenciar disputas travadas entre o Opportunity e seus sócios. "Essa investigação foi usada em Londres - Dantas e a Telecom Italia brigam pelo controle da BrT. Está sendo usada em Nova York. O tambor é tocado aqui e o som ecoa por lá."