Título: FMI eleva previsão para PIB do Brasil
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2005, Economia, p. B6

Advertências sobre petróleo e juros feitas pelo Fundo Monetário Internacional temperam otimismo sobre cenário global A economia brasileira deve crescer 3,7% neste ano e 3,5% no próximo, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), mais otimistas que as de seis meses atrás. O compromisso do governo com "políticas econômicas saudáveis e a busca de reformas estruturais estão dando resultados", segundo a nova edição do Panorama Econômico Mundial (World Economic Outlook, WEO), distribuído ontem. Em setembro, as taxas de crescimento do País estimadas para 2004 e 2005 eram 1,2 e 0,2 ponto menores. A estimativa da expansão econômica mundial neste ano também foi revista e passou de 4,1% para 4,3%. Para 2006, o número projetado é 4,4%. Mas o crescimento será desequilibrado, se a atividade na Europa e no Japão continuar em marcha lenta.

"A expansão continua a depender excessivamente dos Estados Unidos e da Ásia emergente, enquanto ainda esperamos uma recuperação sustentada na zona do euro e no Japão", disse ontem o diretor de pesquisas e economista-chefe do FMI, Raghuram Rajan. A economia americana deve crescer 3,6% neste ano e manter o ritmo no próximo, enquanto a expansão na zona do euro não deve passar de 1,6% e 2,3%. O Japão mal começou a recuperar-se após uma década de estagnação.

O otimismo é temperado com algumas preocupações: preços do petróleo muito voláteis, juros em alta e desequilíbrio externo das grandes economias são sinais de perigo.

O dólar depreciou-se cerca de 6% desde setembro, e isso deve ter barateado as exportações dos Estados Unidos, mas não bastou para melhorar suas contas externas. O déficit americano em conta corrente - que inclui os balanços de mercadorias, de serviços e de transferências unilaterais - chegou a 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB). A forte demanda interna nos Estados Unidos neutralizou os efeitos do câmbio, forçando o aumento das importações.

Enquanto isso, economias emergentes da Ásia continuaram a acumular reservas suficientes para se proteger de "qualquer coisa pouco menos grave que o apocalipse", comentou Rajan.

O ajuste global depende, insistiu o economista, da contribuição de todos, com mais crescimento na Europa e no Japão, mudança na política chinesa de câmbio e maior poupança nos Estados Unidos. Mas, embora concordem quanto à necessidade de cooperar, todos continuam, segundo o economista, a repetir Santo Agostinho: "Senhor, dá-me a castidade, mas não agora".

Também o governo dos Estados Unidos tem essa atitude ambígua em relação à castidade, prometendo reduzir o déficit fiscal, mas sem explicar, como lembrou Rajan, o que vai fazer.

Nessas condições, as tentativas de ajuste ficam na dependência da alta de juros, que deve frear, em algum momento, o vigoroso consumo das famílias americanas. Ao mesmo tempo, o preço do petróleo cria insegurança e pode acabar pressionando a inflação. Isso pode resultar em aumentos de juros mais acentuados, com problemas para economias emergentes.

AMÉRICA LATINA

Por enquanto, as economias em desenvolvimento continuam, de modo geral, apresentando bom desempenho e sustentando políticas corretas segundo os padrões do FMI. O informe traz uma avaliação bastante positiva da América Latina e do Caribe, que cresceram 5,7% em 2004 e devem crescer 4,1% neste ano e 3,7% no próximo.

A expansão argentina, que alcançou 8,8% em 2003 e 9% no ano passado, deve acomodar-se em níveis mais modestos, 6% em 2005 e 3,6% em 2006. O crescimento excepcional dos últimos dois anos, segundo a análise do Fundo, explica-se em parte pela base muito baixa de onde partiu a retomada, depois de cinco anos de recessão profunda. A avaliação das políticas é positiva, de modo geral, mas o Fundo insiste em que a Argentina complete o acerto com os credores. Detentores de 24% da dívida argentina recusaram os termos da negociação.

A principal ressalva quanto à América Latina refere-se à dívida pública, ainda elevada. Esse é um fator de vulnerabilidade e a observação é aplicada também ao Brasil, ao lado de elogios às políticas fiscal e monetária e ao avanço na realização de reformas.

O Fundo estima para o Brasil, neste ano, uma inflação média de 6,5%, medida pela evolução dos preços ao consumidor. A estimativa é de 4,6% para o próximo ano. Esses números não são comparáveis diretamente com as metas e projeções no Brasil, que se referem não a médias anuais, mas a resultados medidos ponta a ponta. Feita essa ressalva, as projeções do FMI são razoavelmente próximas das estimativas brasileiras.