Título: Bolsonaro diz que teve oferta do PT para trocar cargo por apoio
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2005, Nacional, p. A4

Na sessão da CCJ, deputado defende nepotismo e afirma que partido propôs indicação de administrador de aeroporto no Rio

O deputado Jair Bolsonaro (PFL-RJ) disse ontem que o PT lhe propôs em 2003 que indicasse o administrador do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, em troca do seu voto favorável à reforma da Previdência. Com sua verve desabrida, Bolsonaro rotulou a campanha contra o nepotismo como uma "demagogia" e afirmou que só está contra a contratação de parentes quem é "parente de sócio de empreiteira". Ele garantiu que recusou a proposta do PT e, numa ironia enviesada, afirmou que o bar do aeroporto tem um faturamento líquido de R$ 200 mil mensais: "Eu poderia tirar a minha mãe, que tem 86 anos e trabalha no meu gabinete, e colocá-la para administrar o bar", ironizou. A mãe do deputado não trabalha no seu gabinete, mas ele já contratou um filho, Eduardo Bolsonaro, e sua companheira.

O ex-líder do PT na Câmara Walter Pinheiro (BA) duvidou das declarações. "O deputado Bolsonaro deve estar se oferecendo para pegar o cargo", afirmou, devolvendo a ironia. "Duvido que alguém do governo ou do PT tenha procurado justamente ele." O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), negou a denúncia de Bolsonaro sem citar seu nome. "Os fatos falarão por si", disse.

O vice-presidente do PT, Romênio Pereira, contou não ter nenhuma informação de que o governo tenha oferecido algum cargo a Bolsonaro. "Nós, da executiva do PT, não entramos na distribuição de cargos, mas acho improvável que alguém do governo tenha procurado justamente o Bolsonaro", comentou. O deputado Chico Alencar (PT-RJ) também disse que nunca ouviu nada a respeito de cargo para Bolsonaro.

As declarações do deputado do PFL foram feitas durante a votação, na Comissão de Constituição e Justiça, das emendas constitucionais que proíbem a contratação de parentes. Capitão da reserva do Exército, ele disse que a votação era uma "palhaçada" e "em alguns casos o nepotismo é válido".

Bolsonaro parecia antecipar a repercussão de suas declarações em favor do nepotismo entre seu eleitorado, junto ao qual ele procura defender posições moralistas. "Não quero blindagem para chegar no Rio e dizer que votei contra o nepotismo", afirmou ele ao final da sessão.