Título: Sem ministério, Roseana deve se licenciar por 4 meses
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Nacional, p. A6

Demora do presidente Lula em definir mudanças na sua equipe fez filha de Sarney retomar seu projeto de concorrer ao governo do Maranhão em 2006 BRASÍLIA-A senadora Roseana Sarney (PFL-MA) não quer mais ser ministra do governo Luiz Inácio Lula da Silva nem tampouco pretende trocar o PFL pelo PMDB de seu pai, senador José Sarney (AP). Diante da demora do presidente em realizar a prometida reforma da equipe, o ministério perdeu o atrativo, uma vez que Roseana teria de deixar o posto em menos de um ano para disputar as eleições de 2006. E como seu projeto pessoal é o governo do Maranhão, a troca partidária não faz sentido. Afinal, o PFL é a maior legenda do Estado, com 58 prefeitos, e o PMDB maranhense já está sob o comando do grupo Sarney.

Um pefelista que acompanha a movimentação da senadora conta que, depois de andar às turras com a direção nacional, que faz oposição cerrada ao governo, Roseana teve uma "conversa conciliadora" com o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC). Diz o parlamentar que o entendimento ocorreu no embalo de um aceno do governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares, ao PFL.

Tavares mudou-se do PFL para o PTB no ano passado, por conta de uma briga com o grupo Sarney, mas passou a admitir o retorno caso Roseana trocasse de legenda. Foi a senha para que Bornhausen cobrasse dela pressa em sua definição partidária. A direção pefelista sabe que, fora do ministério, tudo o que Roseana não quer é "desocupar" o PFL e abrir mão de disputar o governo por um partido forte que, unido ao PMDB, pode lhe garantir a maior fatia do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão.

Mas a reconciliação completa com a direção pefelista sem criar arestas com o presidente Lula e com o PT não é uma operação fácil. O PFL vota fechado contra o governo federal e o PT chegou a promover uma intervenção na regional maranhense para impedir que os petistas locais participassem da administração do governador adversário de Roseana.

A dificuldade, neste caso, é que para fazer as pazes com o PFL é preciso acompanhar a bancada no voto contrário ao governo. E votar contra o governo pode parecer uma retaliação ao Palácio do Planalto por ela ter ficado fora do ministério. Para evitar o constrangimento com ambos os lados e não romper com o governo nem afrontar a direção partidária, a saída política será a licença do mandato por 120 dias.

Neste período, as normas regimentais dispensam a convocação de um suplente.

Como Roseana deve se submeter a uma pequena cirurgia nos próximos dias e ainda pretende retornar a Brasília depois disso, a licença de quatro meses só deverá começar no início de maio. Aí, apostam os pefelistas, o quadro político e econômico já será outro, bem mais difícil para o presidente Lula, dando à senadora mais liberdade para votar contra o governo.