Título: Lula rebate críticas a viagem à África
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2005, Nacional, p. A7

Em Gana, presidente argumenta que não se pode ter pressa para garantir resultados comerciais, numa crítica indireta a Furlan O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu rebater pessoalmente as críticas de que sua viagem à África não estaria produzindo resultados comerciais. "Muitas vezes quando viajamos a um país da África as pessoas ficam inquietas querendo saber o que vendemos ou o que compramos", disse, ao inaugurar a Câmara de Comércio Brasil-Gana. "Não é possível vender com a rapidez que alguns querem, muito menos comprar com a rapidez que alguns querem." Lula procurou sintonizar o discurso de sua própria equipe. Em Camarões e na Nigéria, causou incômodo aos diplomatas a obsessão do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, em fechar negócios, enquanto o Itamaraty adotava um discurso mais político do que comercial. Furlan explicitou sua irritação ao não conseguir informações sobre restrições comerciais do Itamaraty nem do governo nigeriano.

Ao contrário da Nigéria, onde a balança comercial é desfavorável ao Brasil, em Gana é mais vantajosa. Os ganenses importam US$ 169 milhões em produtos nacionais. Por isso, Lula aproveitou a instalação da Câmara de Comércio para expor um discurso cauteloso, mas confiante.

"Política de comércio exterior é como se estivéssemos plantando uma árvore: primeiro aramos a terra, colocamos a semente e precisamos adubar sistematicamente para depois sentarmos à sombra daquela árvore e desfrutarmos o que ela produz. O que estamos fazendo aqui é isso", disse.

Ele disse que, depois de sua visita à África do Sul e até o segundo encontro que teve com seu presidente, nunca tantos empresários ou gente do governo brasileiro tinham visitado o país. Daí o valor do contato e do estabelecimento da relação política. E reafirmou sua convicção de que a relação comercial é feita como uma "via de duas mãos".

Em Gana, foram assinados acordos no setor aéreo na tentativa de, no futuro, facilitar as viagens entre os dois países. "Um brasileiro tem de ir a Paris para chegar a Gana e um ganense tem de ir a Londres para chegar ao Brasil", disse Lula.