Título: UDR vê 'guerra total contra o agronegócio'
Autor: Vannildo MendesFabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2005, Nacional, p. A8

A mudança nos índices de produtividade rural, proposta pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, acabou sendo um dos temas mais destacados na reunião realizada ontem em Brasília entre o ministro Roberto Rodrigues, da Agricultura, e representantes de associações de produtores rurais. O encontro havia sido convocado para discutir a quebra da safra agrícola em várias regiões do País, em decorrência de problemas climáticos. Mas a informação, divulgada pelo Estado, de que setores do governo preparam mudanças nos índices, por meio de instrução normativa, ganhou destaque. Os ruralistas reclamaram, sem meio termo, da atitude da equipe do ministro Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário. Saíram com a impressão de que Rodrigues irá defendê-los - o que pode deixar exposto uma vez mais o agravamento das tensões entre os dois ministros. Recentemente, o ministro da Agricultura já feita críticas ao governo por ter desvinculado a questão da agricultura familiar de sua pasta, transferindo-a para a do Desenvolvimento Agrário.

No encontro, os ruralistas chamaram a atenção para o fato de não ser possível fazer mudanças no índice por meio de instrução normativa. Segundo assessores jurídicos dos ruralistas, alterações nos índices só podem ser feitas depois de discutidas pelo Conselho Nacional de Política Agrícola (CNPA) e por meio de portaria interministerial.

O CNPA é um órgão colegiado vinculado à pasta de Rodrigues, com a participação de representantes de dez ministérios, de órgãos de economia do governo, de produtores rurais e de trabalhadores, num total de 20 integrantes. O Ministério da Agricultura, além de possuir três assentos, tem poder para indicar dois representantes dos ruralistas. A pasta de Rossetto dispõe de uma cadeira e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), duas.

INSENSATA

Na reunião, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, classificou de "insensata", "inconseqüente" e "mal intencionada" a atitude do Ministério do Desenvolvimento Agrário. "Num momento delicado como esse, em que os os produtores estão às voltas com problemas de quebra de safra e de redução nos preços de commodities agrícolas no mercado internacional, não dá para acreditar que venham propor uma medida como essa", desabafou. "Só posso pensar que se trata de perseguição, de guerra ao agronegócio."

A reunião foi agendada com a Rural Brasil - que reúne algumas das principais entidades ruralistas do País.