Título: Stédile avisa: MST vive de ocupação e haverá mais
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2005, Nacional, p. A9

Apesar do recado firme dado ao PT, "abril vermelho" começa só com 20 invasões BRASÍLIA-O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, disse ontem que as ocupações de terra vão continuar no País, em protesto contra a política econômica do governo federal que, a seu ver, tem sido um prolongamento da do governo Fernando Henrique Cardoso. "O movimento vive de ocupações. É claro que haverá outras, não precisa nem prever que haverá novas ocupações", disse Stédile, após se reunir com a direção nacional do PT e o núcleo agrário do partido no Congresso Nacional. Apesar da ameaça do dirigente, o "abril vermelho" deste ano, com apenas 20 invasões, quase todas em Pernambuco, teve até ontem um desempenho pálido em relação ao de 2004, quando foram realizadas mais de 120 ocupações de terras em 17 Estados. Ele informou que a estratégia de lutas deste ano foi alterada por causa da morte do papa João Paulo II e que as atividades se prolongarão no mês de maio, com a marcha que sairá de Goiânia no dia 2 e chegará a Brasília dia 17.

À frente de uma comitiva com os principais dirigentes nacionais do MST, Stédile disse que veio comunicar ao governo e ao Congresso o calendário da marcha, ao final da qual será entregue um documento ao presidente Lula, denunciando que a reforma agrária está parada e pedindo mudanças na política econômica. O documento também afirmará que o Estado só defende os ricos e denunciará a "campanha conservadora" contra o movimento e a agricultura familiar, que Stédile atribui ao agronegócio.

A crítica mais dura, porém, é contra a área econômica do governo.

"Essa política econômica é uma vergonha, viu seu Palocci!", afirmou Stédile, olhando para as câmeras de televisão. Segundo o líder do MST o povo elegeu o governo Lula para fazer reforma agrária, não para aumentar juros ou cortar verbas sociais.

O presidente do PT, José Genoino, negou que a reunião fosse para enquadrar o MST ou negociar moderação no "abril vermelho". Ele disse que o partido se comprometeu a participar da marcha de maio e a apoiar as reivindicações do movimento pelo cumprimento das metas do Plano Nacional de Reforma Agrária, que prevê o assentamento de 115 mil famílias este ano e 400 mil até o final do governo.

"O PT apóia as reivindicações do MST e mantém com o movimento uma relação de respeito. O governo, por sua vez, tem a postura democrática de não criminalizar e respeitar a liberdade e autonomia dos movimentos sociais. Só não concordamos com as críticas à equipe econômica."

O dirigente regional do movimento João Paulo Rodrigues admitiu que o número de ocupações deve ficar muito abaixo de 2004 porque, este ano, o MST optou por formas de lutas mais políticas e menos radicais, como a marcha de Goiânia a Brasília. "Estamos jogando todo peso nessa manifestação, que deve reunir mais de 10 mil pessoas e será a maior marcha já realizada no País", previu.