Título: Greve por salários pára 94 postos do INSS em São Paulo
Autor: Camilla Haddad Rodrigo Gallo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2005, Nacional, p. A10

Segundo sindicato, 95% dos servidores aderiram à paralisação de 48 horas no Estado PREVIDÊNCIA-As portas fechadas dos postos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) causaram frustração em centenas de pessoas que foram pegas de surpresa com a greve de ontem. Cerca de 95% da categoria aderiu à paralisação, que fechou 94 postos em todo o Estado de São Paulo. Os servidores decidiram parar por 48 horas, exigindo reposição salarial e a criação de plano de cargos e salários. Nas ruas, os segurados ficaram perdidos. Poucos sabiam da greve. Na agência da Rua Butantã, na zona oeste da capital, por volta das 7 horas, cerca de 400 pessoas se aglomeraram em busca de informações sobre a falta de atendimento. Na Avenida Braz Leme, na zona norte, a situação era a mesma. Muitos idosos, que foram de ônibus ao local, não sabiam o que acontecia. "A gente se esforça, vem até aqui e não dá em nada. Falta respeito", disse o aposentado José Françoso, de 66 anos.

O autônomo Valter Marques, de 38 anos, ouviu no rádio, a caminho do posto, sobre a paralisação dos servidores. "Mesmo assim, resolvi vir e confirmar. O problema é se o atendimento demorar a voltar."

Com pneumonia, dificuldade para enxergar e portador do vírus da Aids, César de Jesus Padrão, de 49 anos, parecia não acreditar no que estava vendo. "Portas fechadas? Só me resta ir embora", disse ele, que estava acompanhado da filha.

Enquanto a reportagem esteve na porta do posto da zona norte, pelo menos três pessoas pararam o carro e perguntaram se o INSS havia mudado de endereço. Muitos nem imaginavam que havia greve. A situação era semelhante nas agências da Água Branca e da Lapa.

Em Sorocaba, mais de cem pessoas deixaram de ser atendidas ontem, na agência recordista de solicitações de auxílio-doença no País. No único posto da cidade, são protocolados 7.700 novos requerimentos por mês. Atualmente, estão sendo pagos auxílios por acidentes de trabalho a 1.700 previdenciários, enquanto outros 15 mil recebem o auxílio-doença.

Segundo o diretor do Sindicato de Saúde e Previdência (Sinsprev), Laércio Duque, a paralisação de ontem atingiu 95% da categoria - 7.924 servidores - e 94 postos de atendimento em todo o Estado. "Hoje, a paralisação deve chegar a 100%", garantiu. Segundo Duque, os servidores voltam ao trabalho amanhã, quando o atendimento será retomado. Entretanto, se o Ministério da Previdência não acatar as propostas, a categoria ameaça fazer nova greve, por tempo indeterminado, a partir da segunda quinzena de maio.

Eles reivindicam a correção do valor de reajuste salarial proposto pelo governo, de 0,1%. "Quem ganha R$ 1.000 terá apenas R$ 1 de aumento. Isso é ridículo", disse o sindicalista.

Além disso, os funcionários exigem a elaboração de um plano de cargos e salários eficiente, como havia sido prometido pelo governo federal no ano passado. Hoje, os grevistas realizam uma manifestação em frente à sede do instituto, na Santa Ifigênia, às 10 horas.

O INSS informa que as perícias médicas agendadas para ontem e hoje serão remarcadas para uma nova data. De acordo com o instituto, os segurados que não puderam passar pelo exame terão o benefício pago normalmente, pois não haverá suspensão do pagamento. A recomendação é de que as pessoas procurem as agências apenas na próxima semana.