Título: Coréia do Norte pede ao povo que apóie Kim com 'mente única'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2005, Internacional, p. A20

País acusa EUA de fomentarem crise política por recusarem a estabelecer um diálogo direto e bilateral sobre seu programa nuclear

SEUL - A Coréia do Norte pediu ontem à sua população que cerre fileiras em torno do líder máximo, Kim Jong-il, após Washington rejeitar a exigência de Pyongyang de conversações bilaterais para conter a crise nuclear. O jornal estatal norte-coreano Rodong Sinmun ocupou toda a primeira página de sua edição de sábado com um editorial que diz "a mente única serve como a mais poderosa arma", informou a agência oficial KCNA.

"Em um momento como hoje, quando a situação está tensa, nenhuma missão é mais importante do que fortalecer nossa mente única", disse o editorial. Minju Joson, outro jornal estatal, disse que "a proteção devotada ao líder é nossa vida e alma".

Ao mesmo tempo, a Coréia do Norte destacou o perigo de haver choques militares em seu tenso mar do oeste, fronteira com a Coréia do Sul, denunciando infiltrações de navios de guerra do Sul em suas águas ontem, após "a grave situação criada pela política hostil dos falcões imperialistas dos EUA com relação ao Norte".

Segundo a agência KCNA, comandantes da Marinha norte-coreana disseram "que tal perigosa provocação poderia levar a um sério desastre".

As acusações de infiltração, repetidas por várias vezes nas últimas semanas e negadas pela Coréia do Sul, coincidem com o aumento do impasse nuclear. As duas Coréias travaram sangrentos combates navais em 1999 e 2002.

O surgimento da retórica segue ao anúncio da Coréia do Norte na quinta-feira de que o isolado país comunista tinha armas nucleares para "autodefesa".

Com essa declaração, Kim Jong-il fez sua mais dura manobra diplomática e dramaticamente aprofundou a crise nuclear com Washington e seus aliados. A alegação da Coréia do Norte não pôde ser verificada.

Em Washington, funcionários da inteligência examinaram imagens de satélite para tentar encontrar qualquer evidência de que a Coréia do Norte teria realizado ou estaria preparando um teste nuclear, mas nada foi encontrado.

Não está claro se a Coréia do Norte pretende permanecer como uma potência nuclear ou está tentando usar suas armas como uma forma de barganha para obter ajuda, reconhecimento diplomático e um tratado de não-agressão com Washington - medidas que a Coréia do Norte acredita que irão garantir a sobrevivência do regime de Kim.

Em meio à intensificação da crise, os jornais sul-coreanos exortaram ontem o governo da Coréia do Sul a permanecer firme contra a Coréia do Norte.

"Devemos ser resolutos contra qualquer crise nuclear que decisivamente ameace nossa segurança nacional", disse em um editorial o jornal de maior circulação no país, o JoongAng.

Após Pyongyang anunciar que não iria mais participar das conversações entre seis países, o governo americano começou a discutir a possibilidade de levar a questão nuclear norte-coreana ao Conselho de Segurança da ONU.

O primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, manifestou-se na sexta-feira firmemente contra a idéia. Para ele, a imposição de sanções poderia acabar com qualquer possibilidade de que Pyongyang retome as conversações.