Título: EUA pesquisam uma nova geração de bombas atômicas
Autor: William J. Broad
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2005, Internacional, p. A21

Laboratórios recebem verbas para estudar armas nucleares que sejam mais robustas e confiáveis

Considerando que o envelhecido arsenal nuclear do país está ficando cada vez mais frágil, os fabricantes de bombas americanos começaram a projetar uma nova geração de armas nucleares mais robustas e confiáveis e com uma vida útil mais longa, revelaram autoridades federais e especialistas privados. As autoridades dizem que o programa poderá ajudar a reduzir o arsenal e seu alto custo de manutenção. Mas críticos advertem que isso poderá ressuscitar desnecessariamente o complexo de fábricas e laboratórios que produzem armas nucleares e poderá desencadear uma nova corrida armamentista (ler abaixo).

Até agora, essa atividade, meio na surdina, envolve somente US$ 9 milhões para os projetistas de ogiva nos três laboratórios de armas nucleares do país, Los Alamos, Lawrence Livermore e Sandia. Os especialistas federais em bombas dessas instalações fortemente vigiadas estão agora esquadrinhando dados de armas secretas reunidos durante mais de meio século para obter dicas sobre como atingir as novas metas de confiabilidade.

A expectativa é que esse programa inicial relativamente pequeno, envolvendo menos de 100 pessoas, cresça e produza projetos acabados nos próximos cinco ou dez anos, culminando, se a aprovação for requerida e obtida, em ogivas protótipo. O mais importante é que o esforço marque uma mudança fundamental na filosofia dos projetos. Durante décadas, os fabricantes de bomba procuraram usar as mais altas tecnologias e os métodos mais inovadores. As ogivas resultantes eram leves, muito potentes e, em alguns casos, tão pequenas que era possível encaixar uma dúzia delas em um míssil. O estilo americano era diferenciado.

Muitas outras potências nucleares, atrasadas na curva atômica e freqüentemente falhas em experiências e materiais de primeira, se conformaram com menos. Suas armas nucleares tendiam a ser pesadas, mas confiáveis.

Agora, os projetistas americanos estão estudando como inverter o curso e fazer armas mais resistentes, de algumas formas imitando seus rivais, num esforço para evitar as incertezas e as deteriorações da antiga era nuclear. Especialistas estão apreensivos que partes cruciais do arsenal, se algum dia forem necessárias, venham a falhar.

Originalmente, as cerca de 10 mil ogivas do arsenal americano tinham uma expectativa de vida de 15 anos. A idade média agora é de 20 anos e algumas são muito mais antigas.

Especialistas dizem que mesmo um programa federal dispendioso para avaliar e manter a saúde delas não consegue, em última análise, confirmar sua confiabilidade pois uma proibição global impede a realização de testes subterrâneos.

No final de novembro, o Congresso aprovou um pequeno item do orçamento que dá partida no novo esforço de projeto conhecido como Programa de Substituição Confiável de Ogivas Nucleares. Autoridades federais dizem que os projetos poderão eventualmente ajudar a remodelar o arsenal nuclear com ogivas que sejam mais resistentes e tenham uma vida útil mais longa.

"É importante", disse John R. Harvey, diretor de planejamento de políticas da Administração Nacional de Segurança Nuclear, órgão que supervisiona o arsenal. Numa entrevista, ele disse que a meta do novo programa é criar armas que sejam não apenas "inerentemente confiáveis", mas também mais fáceis de fabricar e certificar sua potência.

Mas os defensores do controle de armas disseram que o programa é provavelmente desnecessário e perigoso.

E acrescentam que poderá dar início a uma nova corrida armamentista, se ressuscitar os testes subterrâneos, e seu revigoramento do complexo nuclear pode ajudar o projeto de ogivas com novas capacidades militares, possivelmente despertando a tentação de serem usadas numa guerra .

Harvey disse que a questão final é se o estoque de armas nucleares atual é suficiente para as missões existentes. "A resposta é sim", disse ele. "Porque, de qualquer forma, há pouquíssimas missões restantes para armas nucleares."