Título: Chávez instala sua força de reserva
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2005, Internacional, p. A14

Oposição qualifica de 'milícia chavista' a nova unidade, comandada por um general e subordinada diretamente ao presidente CARACAS-Usando uniforme militar e a boina vermelha que se tornou símbolo de seu regime, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, instalou ontem seu novo corpo de reservistas, denominado oficialmente Comando Nacional de Reserva e Mobilização Nacional. A cerimônia foi marcada por um desfile de quase 30 mil membros da nova força na Academia Militar de Forte Tiuna, a fortaleza militar mais importante do país, no sudoeste de Caracas. A criação da força vem sendo duramente criticada pela oposição venezuelana, que acusa Chávez de intensificar a militarização do país. "A nova força de reservistas, de acordo com a lei orgânica que a instituiu, publicada na semana passada, será um corpo civil mantido com recursos e nas instalações da Forças Armadas", declarou ontem ao Estado a analista política independente Maryclen Stelling, professora de Sociologia Política da Universidade Católica Andrés Bello, de Caracas. "Mas essa unidade não estará subordinada ao comando das Forças Armadas. Seu comandante-geral será o general Julio Quintero Viloria, que se reportará diretamente ao presidente da república."

"Como os soldados da força reservista serão remunerados, a estimativa é que a unidade atrairá até 70 mil desempregados jovens e pobres, uma parcela da população que normalmente se inclina ao chavismo", prossegue Maryclen. "Há o risco evidente de que essa se torne uma força armada altamente favorável a uma das duas vertentes políticas que atualmente dividem o país (chavistas e antichavistas)." A professora esclarece que a notícia publicada na semana passada pelo jornal El Nacional, segundo a qual todos os reservistas entre 18 a 50 anos seriam convocados para integrar a unidade - o que resultaria num exército paralelo de mais de 1 milhão de homens - estava equivocada. "O texto da lei que regulamenta o corpo de reservistas fala em alistamento voluntário."

Maryclen explica que os comandantes militares não fizeram críticas à criação da unidade, que membros da oposição têm qualificado de "milícia chavista". As denúncias da oposição são de que Chávez - um tenente-coronel da reserva do corpo de pára-quedistas que liderou uma fracassada tentativa de golpe militar em fevereiro de 1992 - vem desenvolvendo um projeto para militarizar o país.

Chávez encomendou recentemente 100 mil fuzis Kalashnikov à Rússia, além de aviões, corvetas e lanchas de patrulha da Espanha, para reequipar o Exército, a Marinha e a Força Aérea.

Durante a cerimônia de ontem, Chávez fez questão de ressaltar que a instalação da força de reservistas não é parte de um plano militarista. "Que fique claro que não se trata de um projeto militarista nem de um projeto civilista que relegue a segundo plano os nossos militares", discursou o presidente. "A unidade cívica-militar foi essencial para a derrota da tentativa golpista de 2002, numa das jornadas patrióticas mais relevantes da história da Venezuela", prosseguiu, referindo-se ao fracassado golpe de abril de 2002 que o removeu do poder por menos de 48 horas. A cerimônia marcou também os três anos da volta de Chávez ao Palácio de Miraflores, apoiado por forças militares leais a ele.

BATE-BOCA

Ainda ontem, Chávez fez uma advertência a seu colega colombiano, Álvaro Uribe para que "não se preste ao jogo do imperialismo contra a Venezuela. Ele se referia à suposta declaração de Uribe, durante viagem ao Japão, que a Venezuela deveria "refletir ou isolar-se" em relação às armas que está comprando da Rússia, ante o risco de que fuzis "aposentados" caiam em mãos de rebeldes colombianos. Uribe desmentiu que tivesse feito qualquer menção à Venezuela durante a viagem.