Título: Governo segue escolha de perto
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2005, Vida&, p. A16

Embaixada do Brasil acompanha todas as informações

A eleição do novo papa se torna alvo de uma atenção especial por parte do governo brasileiro. Enquanto os cardeais adotam a política de não revelar o teor dos debates dentro do Vaticano sobre a escolha do novo papa, a Embaixada do Brasil na Santa Sé acompanha de forma minuciosa cada informação que é divulgada sobre os possíveis pretendentes ao posto máximo na Igreja. O governo, que produz diariamente avaliações internas sobre as informações que consegue coletar, acredita que a escolha do novo papa está carregada de "conotações políticas" e terá implicações importantes, principalmente ao país de onde sair o novo chefe da Igreja. O fato de o cardeal brasileiro Cláudio Hummes ser indicado em praticamente todos os jornais da Europa como um possível candidato reforça ainda mais o interesse do governo em observar a situação. Mas os diplomatas explicam que o objetivo de Brasília vai além de tentar adivinhar quem será o novo papa. Um dos interesses do governo é o de identificar as tendências da Igreja e como estão sendo realizados os debates sobre temas que podem ter impacto direto no Brasil.

As informações enviadas ao Itamaraty, em Brasília, são resultado de pesquisas com diversas fontes, o que inclui diplomatas de outros países, jornais locais e especialistas. Durante a visita do presidente Lula e de sua delegação aos funerais de João Paulo II, o chanceler Celso Amorim leu as avaliações feitas pela embaixada. Segundo os funcionários do Itamaraty, o ministro se mostrou interessado na eleição para o novo chefe da Igreja em conversas particulares.

Nos últimos anos, o Brasil e a Santa Sé compartilharam pontos comuns em sua avaliação sobre a política internacional. Ambos defenderam o fortalecimento de instituições internacionais, como a Organização das Nações Unidas, para a solução de conflitos. A Santa Sé, assim como o Brasil, foi contra a guerra no Iraque.

O governo, porém, garante que não tem nenhuma possibilidade de influenciar na escolha do novo papa. Ainda assim, o presidente Lula não escondeu que torce para que o próximo papa seja brasileiro. Em sua passagem por Roma, ele esteve com d. Cláudio, mas a questão da sucessão não foi tratada, segundo a Embaixada do Brasil.

Ontem, o Vaticano realizou uma cerimônia com todos os embaixadores estrangeiros com representações no Vaticano. Durante o evento, ficou claro que as viagens realizadas por João Paulo II a vários países em seus 26 anos de pontificado tiveram um impacto além das questões religiosas.

O cardeal Joseph Ratzinger, decano do Colégio de Cardeais e um dos cotados para assumir o lugar deixado por João Paulo, destacou no encontro que nos últimos 20 anos o número de países que estabeleceram embaixadas no Vaticano dobrou. Hoje, 150 países contam com relação diplomáticas com a Santa Sé. A cerimônia contou com a presença de cardeais brasileiros, entre eles d. Eugenio Salles, um dos responsáveis por receber as saudações das embaixadas de todo o mundo ao Vaticano