Título: Cardeal Ratzinger já teria 40 votos
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2005, Vida&, p. A16

O alemão Joseph Ratzinger e o italiano Angelo Sodano são tidos como favoritos, segundo as especulações dos jornais da Itália O conclave que definirá quem será o próximo papa vai começar apenas na segunda-feira, mas dois cardeais já despontam como possíveis favoritos nas reuniões que antecedem o processo oficial. Segundo a imprensa italiana, o alemão Joseph Ratzinger e, de forma mais distante, o italiano Angelo Sodano já teriam até mesmo votos certos. Os jornais ainda destacam as profundas divisões existentes entre os grupos dentro do Vaticano em relação ao novo papa. Pelas regras do Vaticano, todo o conteúdo das reuniões deve ser mantido em total sigilo e os cardeais têm evitado como podem a imprensa. No entanto, uma funcionária do alto escalão em Roma ouvida pelo Estado confirmou que, apesar de o processo eleitoral não ter sido iniciado, ninguém esta perdendo tempo. "As articulações são intensas", disse.

Um dos preferidos seria Ratzinger, que pelas últimas duas décadas foi o responsável por salvaguardar a doutrina da Igreja. Os jornais italianos indicam que ele já teria entre 40 e 50 votos. "Reina uma enorme confusão, mas Ratzinger teria quase 40 votos", afirma o jornal Corriere della Sera. Para ser eleito, o candidato precisará de 77 votos, ou seja, dois terços dos 115 cardeais.

"Os apoiadores de Ratzinger iniciaram suas movimentações para elegê-lo rapidamente", escreveu o La Repubblica, que lembra que o alemão era um amigo próximo de João Paulo II e, portanto, contaria com o apoio dos cardeais que também eram próximos do papa. Nessa lista estão o presidente da Conferência Episcopal italiana, Camillo Ruini, o austríaco Christoph Schoenborn e o patriarca de Veneza, Angelo Scola.

NOVO LIVRO

Para a surpresa geral, Ratzinger publicou ontem na Alemanha trechos de seu novo livro, no qual argumenta que a Europa precisa reconquistar sua herança cristã e ataca as baixas taxas de natalidade. Os trechos estão na edição de ontem do Süddeutsche Zeitung, de Munique. A publicação ocorre dias depois de o Vaticano proibir aos cardeais dar entrevistas à imprensa. A lei do silêncio teria sido estabelecida por ordem do próprio Ratzinger, que não gostaria de ver nos jornais os debates que ocorrem nas salas secretas do Vaticano.

"No momento de seu maior sucesso, a Europa parece estar vazia por dentro", afirmou. Ele também não poupa críticas ao colapso da idéia da família e não esconde sua oposição ao casamento gay. Para ele, isso seria o equivalente a deixar "toda a história moral da humanidade para trás". Sobre a relação com o islamismo ou o judaísmo, o cardeal acredita que tenha sido um erro permitir que cristãos se deixem humilhar e condenar por fiéis dessas religiões.

Coincidência ou não, Ratzinger toca em seus artigos nos temas críticos da Igreja, que estarão no centro do debate nos próximos dias. Mas os jornais italianos admitem que vários cardeais ainda estão indecisos e muitos deles, inclusive alemães, não concordam com sua visão doutrinária.

PRIMEIRA FASE

Já o jornal Il Tempo garante que outro forte candidato é o secretário de Estado Angelo Sodano, que já teria 30 votos. Embora poucos, esses votos seriam importantes para a primeira fase das votações. No total, a eleição no Vaticano pode levar até cinco dias, o que significaria a realização de oito pleitos. Sodano seria apoiado pela Cúria oficial, pelos cardeais africanos e alguns europeus.

O arcebispo de Milão, Dionigi Tettamanzi, seria mais um na disputa. Outros nomes cogitados ainda são o do ex-arcebispo de Milão Carlo Maria Martini e do arcebispo primaz belga Godfried Danneels.