Título: SP recebe vírus letal por engano
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Vida&, p. A20

Cepas do A/H2N2 foram enviadas pelos EUA ao Einstein, ao Fleury e a 3.700 laboratórios de 18 países Kits com amostras do A/H2N2, um vírus de gripe que surgiu na Ásia e deixou 4 milhões de mortos no mundo em 1957 e 1958, foram enviadas por engano pelo Colégio Americano de Patologia para cerca de 3.700 laboratórios de 18 países. Entre eles, o laboratório do Hospital Albert Einstein e o Fleury, em São Paulo. Anteontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) exigiu que todas as amostras fossem eliminadas. No mesmo dia, elas foram destruídas no Brasil. Em nota oficial, o Einstein afirmou: "A amostra contendo a cepa do vírus influenza A tipo H2N2, inadvertidamente enviada pelo Colégio Americano de Patologia a 3.747 instituições no mundo, entre elas o Hospital Israelita Albert Einstein, foi destruída na terça-feira, por volta das 17 horas."

O vírus A/H2N2 não está ativo há quase 40 anos. Ele é letal e similar ao que circulou em 1957 e 1958, provocando a chamada pandemia de gripe asiática. Ele está desativado desde 1968.

O primeiro passo para a eliminação das cepas é colocá-las em uma superestufa chamada autoclave (processo de destruição pelo calor úmido). Lá, o vírus é submetido durante 30 minutos à temperatura de 120º C. Depois, é incinerado. No Einstein, dois funcionários tiveram contato com ele. No Fleury, apenas um. Ninguém teve sintomas de gripe.

GOLPE DE SORTE

Os kits foram distribuídos entre os dias 1 e 10 de março. No dia 8 de abril, um laboratório do Canadá descobriu que um dos frascos continha o vírus. "Foi curiosidade. Um golpe de sorte. Não seria de se estranhar que, se não fosse tal laboratório, o mundo nunca tomaria conhecimento do risco pelo qual correu", avalia o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.

O Colégio Americano de Patologia passou, então, a avisar laboratórios, mas de forma lenta. Ontem, a OMS interferiu no assunto, avisando os Ministérios da Saúde dos países envolvidos. "O Colégio Americano de Patologia falhou três vezes: ao armazenar a cepa em local inadequado, ao enviá-lo para países e na demora em avisar laboratórios envolvidos", comentou Barbosa.

O material chegou aos 3.700 laboratórios por meio de um programa de controle de qualidade, no qual amostras de vírus são enviadas dos Estados Unidos para análise e comparação com os padrões adotados pelo Colégio de Patologia. "É testada nossa capacidade de diagnóstico", explica Celso Granato, diretor de pesquisa clínica do Fleury. "Mas o A/H2N2 é uma subtipagem do influenza A que só pode ser identificada em pouquíssimos lugares do mundo, não no Brasil."

Laboratórios do Chile e do México, que também receberam as amostras, informaram ontem que já destruíram o vírus. A maioria das amostras, no entanto, foi enviada para os Estados Unidos. "O vírus não foi detectado em americanos. Mas enquanto houver risco, apesar de ser muito baixo, estaremos fazendo todo o possível para assegurar que a saúde humana não seja ameaçada", disse Julie Gerberding, diretor dos Centros de Prevenção e Controle de Enfermidades, nos EUA.